06/04/2018

Agredida por namorado, estudante de Engenheiro Coelho faz denúncia

Jovem foi espancada no último domingo (1)

Da redação 

Letícia Fernandes tem 20 anos e é estudante do curso de Tradutor e Interprete no Centro Universitário Adventista do Estado de São Paulo (Unasp) campus Engenheiro Coelho. A jovem está na lista das pessoas conhecidas pela alegria, vontade de viver e de conquistar o mundo. Os estudos a faz capaz de interpretar não somente um idioma, mas também gestos, expressões.

A excelência chega quando se aprofunda nos costumes, tradições e cultura de um povo. É disso que Letícia fala, é isso que ela lê. No entanto, a jovem acaba de entrar em outra listagem. A lista de mulheres agredidas. Assim, os gestos viraram golpes, o idioma foi violento e as expressões, de choro.

“Eu nunca imaginei que isso pudesse acontecer, nunca achei que pudesse apanhar”, conta Letícia, se referindo ao ex-namorado, morador de Artur Nogueira (SP). O sentimento um pelo outro apareceu em novembro de 2017. A amizade virou, rapidamente, paixão. Vívida e intensa, qualidades de Letícia, se transformaram também em adjetivos para o relacionamento. “Eu nunca havia sentido nada parecido por alguém, criei um sentimento muito forte, era o amor da minha vida”, comenta a estudante. A jovem nunca havia vivido aquilo, era um sonho.

De tão sério, o relacionamento levou o rapaz a conhecer a família dela, em Pouso Alegre (MG). “Ele foi o primeiro namorado que eu levei para conhecer a minha casa, meus pais”, relembra. Tudo parecia ser natural e saudável. Carícias e trocas de frases românticas pautavam a relação. Por isso, até então, era um relacionamento com perspectivas duradouras.

Em janeiro, o casal passou alguns dias sem se ver. O jovem foi para uma cidade de Goiás, Letícia, para Búzios (RJ). “Foi uma saudade imensa”, exclama. Letícia gostou da viajem, mas contava os dias para rever o rapaz.

Em fevereiro foi a vez de marcarem uma viagem juntos. O destino escolhido foi Maranduba (SP). No passeio, além de Letícia e o então namorado, estava um casal de amigos. “Ali ele começou a ficar agressivo, reclamava que eu não ajudava, enfim, voltou da praia irritado comigo”, afirma a estudante. Momento normal de um relacionamento? Letícia não sabia, apenas acreditava em seus sentimentos.

O jovem possui uma irmã mais nova, de 13 anos. “Um dia resolvi dar uma volta com a moto dele, levando a irmã. Quando voltei, ele estava muito bravo por ter pego a moto”, explica. Segundo Letícia, ele começou a agredir a irmã. “Um marmanjo barbado batendo em uma menina de 13 anos a ponto de arrancar sangue! Tentei impedir e apanhei também. Ele me tirou da casa com porradas”, comenta a jovem ao lembrar da primeira vez que foi agredida pelo companheiro.

O mundo de Letícia caiu, o perfeito relacionamento havia se quebrado. “Cheguei a fazer um boletim de ocorrência, mas os dias passaram e eu não dei prosseguimento”, explica Letícia. Não demorou para que os pais da estudante ficassem sabendo. “Eles souberam do que aconteceu e me proibiram de manter contato com ele”, ressalta a estudante.

Alguns dias se passaram até que o jovem entrou novamente em contato com Letícia. “Quando chegou a época do carnaval, ele começou a me procurar novamente, dizendo que me amava, dizendo que ele ia mudar, que ia ser diferente e que ele não queria me perder, que ele seria diferente, que eu era o amor da vida dele e ele queria se casar comigo”, relembra a jovem. De tanto insistir, o rapaz conseguiu fazer brotar um pouco do sentimento que ainda havia na jovem. “Acabei cedendo, voltei”, admite.

Contar para os pais que o relacionamento estava de volta não era uma opção para Letícia. “Meus pais me proibiriam de voltar com ele. Disseram que se eu voltasse, eles iam parar de pagar a faculdade e fazer as coisas para mim, mesmo assim eu voltei, escondido deles”, conta. Os pais começaram a suspeitar sobre a possível volta do casal. A mãe começou a advertir de que ela não deveria ficar com ele, pois ela iria apanhar novamente. “Eu achava que meus pais eram ruins, que não gostavam dele, mas eu continuei, achei que ele tivesse mudado e que tudo daria certo”, rememora a jovem.

Ciúmes e sentimento de posse se intensificaram por parte do rapaz. “Ele apagava meus contatos, mandava mensagens para meus amigos não falarem mais comigo, apagava as pessoas da minha rede social e dizia para eu me afastar de todo mundo”, conta Letícia. Iludida pelo sentimento, Letícia caminhava, sem perceber, para um lugar bem longe dos amigos. “Achava que ele estava fazendo tudo aquilo para o meu bem”, relata.

E a situação ainda se intensificou. No último domingo (1), a estudante universitária estava na casa do namorado. Após uma discussão, ela ficou magoada, triste. “Ele disse que se era para eu ficar com aquela cara, era para eu ir embora”, diz. Foi o que ela fez, chateada e cansada das brigas, passou o domingo em casa, sozinha.

“A noite ele começou a me ligar, pedindo para eu ir comer na casa dele. Eu já estava mais calma e resolvi ir. Ele disse que iria me buscar assim que a chuva passasse”, relembra. Passados quarenta minutos, o jovem não apareceu. “Liguei perguntando se ele viria. Ele ficou nervoso por eu estar cobrando e disse que não era meu motorista”, detalha.

Após mais uma discussão, dessa vez no telefone, Letícia decide não ir. O jovem não compreende. “Ele afirmou que ia me buscar e que eu deveria ir sim para casa dele”, exclama. A jovem insistiu que não iria, o que o deixou irritado. “Ele voltou para casa dele, me ligou e disse que iria me buscar novamente, e que eu tinha sete minutos para sair. Se eu não saísse, ele faria um escândalo”, rememora.

O jovem foi até a residência de Letícia, uma república. Segundo a ela, o rapaz começou a fazer marulho, gritar e cantar pneu em frente da casa. “O dono da república me ligou, disse que tinha um cara gritando meu nome na rua e que isso estava incomodando algumas pessoas, avisei ele que iria resolver”, comenta a jovem. Um pesadelo estava prestes a começar.

“Quando eu saí ele já tacou o capacete em mim, mandando eu subir na moto. Aí fiquei brava, falei que ele não poderia ter feito aquilo, aí ele pegou o capacete novamente e colocou com tudo em minha cabeça. Eu disse que não ia mais e ele pegou a chave da minha casa, trancou o portão, jogou a chave longe e me deixou para fora da minha residência”, explica Letícia.

Sem conseguir encontrar a chave, a jovem estava sem ter um lugar para dormir. “Eu não tinha o que fazer, fui caminhando até a casa dele, mas não o encontrei lá”, comenta. Desesperada, uma ideia surgiu na cabeça da moça. “Como eu tinha acesso à casa dele, entrei e fui para um quartinho nos fundos do terreno. Pensei em passar a noite lá porque eu não tinha o que fazer, achei que ele não me veria lá e no outro dia eu resolveria a situação”, comenta.

Quando o jovem chegou em casa, foi até o quarto onde Letícia estava. “Ele entrou e já começou a falar um monte para mim, dizendo que já tinha outra pessoa e que não me queria mais”, conta Letícia, ao relembrar os momentos de fúria do ex-namorado. “Ele começou a me socar, me colocou no chão e me batia, foi nesse momento que tentei tirar ele de cima de mim e ele mordeu meu dedo, em seguida, ele me colocou para fora de casa e me deixou lá”, explica a jovem. Sozinha, na rua, Letícia pediu ajuda para um vizinho do ex-namorado, que chamou a polícia.

Feridas e com hematomas apareceram. As externas, no corpo e no rosto, devem desaparecer em algumas semanas. As internas, feridas registradas na alma da jovem, vão durar mais tempo. Não há palavras para traduzir o que Letícia sente. Os registros em documentos e boletins de ocorrência devem cumprir o seu papel. Olhar para frente e caminhar é o que lhe resta.

A jovem está em Pouso Alegre (MG), acolhida pelos abraços calorosos dos pais. “Quero refazer minha vida, voltar a estudar e seguir em frente”, exclama. Além de adquirir mais conhecimento e de voltar a sorrir, Letícia espera que a justiça seja feira. “Ele já fez isso com outras meninas! Se nada acontecer, não serei a última”, afirma.

Portal Colhense entrou em contato com o ex-namorado de Letícia, mas ele não quis comentar o caso.

……………………………………..

Tem uma sugestão de reportagem? Clique aqui e envie para o Portal Coelhense.


Comentários

Não nos responsabilizamos pelos comentários feitos por nossos visitantes, sendo certo que as opiniões aqui prestadas não representam a opinião do Grupo Bússulo Comunicação Ltda.