05/11/2017

Psicólogo de Engenheiro Coelho fala sobre luto infantil

Profissional abordou diversos pontos sobre o comportamento infantil em relação à morte

Michael Harteman

A morte é sem dúvidas um dos assuntos mais intrigantes da humanidade. Não há quem se mantenha indiferente diante do falecimento de um ente querido ou mesmo de um amigo. Além de adultos, o sofrimento também atinge as crianças e falar sobre o tema com elas as vezes se torna um tabu. Qual a maneira ideal pra se falar com uma criança sobre a morte de alguém? Como deve ser tratado o luto infantil? Quais são os sinais de que o luto infantil está anormal? Para tentar ajudar na resposta dessas perguntas, o Portal Coelhense conversou com o psicólogo  Christhof Karklin Wolter.

Christhof se formou em psicologia em São Paulo e atualmente está trabalhando em Engenheiro Coelho. Tendo morado em diversas cidades no Brasil e também com passagens pela Europa, este observador do comportamento humano foi bastante solícito em falar sobre o luto infantil.

Acompanhe na íntegra a entrevista:

 

Primeiro, fale um pouco sobre você, onde se formou? Qual a área de atuação? Aonde atende? Meu nome é Christhof Karklin Wolter, tenho 25 anos. Sou nascido em Maringá (PR), mas já morei em vários outros lugares, incluindo Berlim (5 anos) e Genébra (1 ano). Sou formado em psicologia no Unasp campus São Paulo e atualmente atuo fazendo atendimento clínico com os alunos aqui no Unasp campus EC.
O que é o luto? O luto é um período ou fase que as pessoas passam quando perdem alguém ou algo querido/amado.
Qual a importância do luto para as pessoas? O luto é uma fase fundamental para a pessoa se reconstituir e é muito importante que a pessoa passe por todo o processo. Primeiramente gostaria de enfatizar que para cada pessoa o luto é diferente. Pode haver variação quanto a intensidade, comportamento e a duração. Quando alguém está passando pelo luto, é importante dar todo o apoio para ela necessário, sem invadir a privacidade dela e desrespeitar o seu processo de luto.
 
Existe muita preocupação com respeito ai luto infantil. Como as crianças reagem a esse momento? Bom, esta pergunta é bem abrangente, mas vou tentar responder algumas coisas a respeito. O luto infantil, considerando aproximadamente a idade entre 3-12, onde a criança já tem maior noção sobre a realidade, é manifestado de maneiras distintas para cada indivíduo. Cada criança vai reagir ao luto de maneira própria e subjetiva. Algumas vão ter a tendência de se isolar enquanto outras vão ser agressivas e outras simplesmente não vão mudar muita coisa, pois não compreendem a profundidade da morte. O importante é saber que as crianças, em sua grande maioria irão se expressar e vivenciar o luto através do seu comportamento e não com palavras. Agora, se a pessoa que faleceu é o pai ou a mãe, o processo de luto e de adaptação pode ser dificultado, pois a criança, principalmente na idade entre 1-6 anos de idade aproximadamente, está formando sua identidade e os pais tem papel fundamental nisso. Então a criança vai buscar outras maneiras de criar sua personalidade. Mas isto não quer dizer que a criança está perdida, somente que ela vai passar por algumas dificuldades que demandam maior atenção.
 
Dar a notícia da morte de um familiar para uma criança é algo sempre delicado. Existe alguma maneira correta de se fazer isso? Não há um momento e nem uma maneira ideal para dar a notícia trágica de um falecimento de um querido a uma criança, mas com certeza existem maneiras que a informação é transmitida, mas que facilitam o processo de luto e aceitação. Uma das maneiras seria esta: Chame a criança, diga que você quer falar com ela algo muito sério, abaixe-se no nível dela para ficar olho no olho, diga o que ocorreu (somente os pontos relevantes para a sua compreensão), diga que a pessoa faleceu e que ela não irá voltar mais para casa, mas que todos estão muito tristes por isso e que ele tem a família dele para lhe dar suporte. É importante que a criança passe pelo processo do luto sem achar que virou alguma estrela ou está vagando por aí, mas é fundamental que ela tenha espaço para manifestar a sua dor infantil e que tem o acolhimento da sua família.
 
Tratar esse momento de maneira errada, pode causar danos na formação cognitiva e emocional desta criança? Sim, pode. O cognitivo e o emocional estão intimamente ligados. Logo, ao tratar este momento com descuido pode atrapalhar o seu processo de luto e possivelmente provocar algum déficit cognitivo e emocional no presente e futuro. Devido as infinitas variáveis não citarei as possibilidades.
 
Nos dias que seguem a noticia do falecimento, quais cuidados devem ser tomados? É melhor falar sobre a pessoa falecida com a criança ou o ideal é que se deixe o assunto de lado? Deve ser incentivado o diálogo sobre o tema, mas jamais imposto, pois o espaço e a subjetividade da criança deve ser respeitado. Convide a criança para conversar a respeito, mas se ela demonstrar resistência deve ser respeitado e após algum tempo incentivado novamente. É muito importante que o diálogo e a expressão dos seus sentimentos sempre sejam uma possibilidade para a criança na sua família, principalmente neste momento de luto para a criança.
 
Existe algum sinal de que o luto de uma criança está anormal? Como dito anteriormente, a criança vai expressar a sua tristeza e o luto através do seu comportamento que pode ser bastante variado e imprevisível, mas deve-se estar atento principalmente a duração deste processo e a intensidade. A criança possivelmente demonstrará agressividade, mas deve-se notar o quão agressivo é o seu comportamento e sua duração. A mesma atenção deve ser dada aos outros sentimentos e comportamentos como tristeza, isolamento e etc.
 
No caso de um luto anormal ou problemas com a criança pela morte de um parente, qual seria a maneira adequada de se resolver isso? Caso seja notado um processo anormal do luto, deve-se voltar a tentativa de um diálogo com a criança, mas caso ela não coopere após várias tentativas abordadas com amor e carinho, procure um profissional qualificado, como um psicólogo e pediatra.
 
Algumas famílias preferem não falar diretamente sobre a morte, usam metáforas como ‘virou uma estrelinha’ ou ‘foi morar em outro lugar’, esse comportamento é ideal? Existe uma idade mínima para que se fale abertamente sobre morte com uma criança? O tema da morte pode ser abordado a partir de qualquer idade, mas a linguagem deve ser adaptada para a idade que a criança se encontra.

……………………………………..

Tem uma sugestão de reportagem? Clique aqui e envie para o Portal Coelhense.


Comentários

Não nos responsabilizamos pelos comentários feitos por nossos visitantes, sendo certo que as opiniões aqui prestadas não representam a opinião do Grupo Bússulo Comunicação Ltda.