12/10/2017

Psicóloga de Engenheiro Coelho explica sobre TDAH e distúrbios de aprendizagem nas crianças

Adriana Marques dos Reis é psicóloga há 10 anos e trabalha na clínica Humanatus

Noemi Almeida

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um transtorno de causas genéticas, que aparece na infância – atingindo 5% das crianças – e pode seguir pela vida toda. A criança tem sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. Muitos pais não sabem como diagnosticar ou o que fazer quando seus filhos apresentam os sintomas do transtorno. A Drª Adriana Marques dos Reis, psicóloga formada há dez anos e especialista em Terapia Cognitiva Comportamental, esclarece as dúvidas sobre o tema:

O que é TDAH? Quais os sintomas? Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), é uma síndrome que tem como características a distração, agitação, hiperatividade, impulsividade, esquecimento, desorganização, adiamento crônico, entre outras. Todas as pessoas, tanto crianças ou adultos, apresentam estas características em pelo menos algumas destas situações ao decorrer da vida, o que é completamente normal.  Porém, quando as queixas e os problemas causados por estes sintomas são muito intensos, prejudicando a vida do indivíduo, há um diagnóstico e tratamento para TDAH e que pode prevenir e aliviar muito sofrimento.

Toda a criança que tem TDHA precisa tomar remédio? Nem sempre. Dependendo do tipo do TDAH, a medicação pode melhorar muito a qualidade de vida da pessoa. No Brasil, a primeira indicação é do estimulante do córtex pré-frontal, o metilfenidato. O estimulante é fundamental quando há problemas de aprendizado e/ou decréscimo na capacidade profissional. No entanto, ele sozinho não faz milagres nem cura o transtorno que é crônico. Há muita desinformação e enxurradas de falsos rumores envolvendo o metilfenidato. Comprovadamente a terapia cognitiva comportamental é que dá melhores resultados. O terapeuta deve funcionar como um treinador, dando instruções e sinalizando o paciente. O foco da terapia deve ser a mudança de velhos hábitos que já se tornaram vícios: adiamento crônico, desorganização, pensamentos negativos, além do resgate da autoconfiança e da autoestima, geralmente muito abaladas.

Como o estilo de vida interfere no tratamento do transtorno? A primeira coisa a ser levada em conta, quando se quer um cérebro funcionando melhor, é que ele precisa ser bem alimentado e bem condicionado. Nutrição é essencial, provinda tanto da alimentação quando da irrigação sanguínea. Independentemente do que se diga, que uma alimentação pobre não causa TDAH, tão pouco uma vida sedentária – o que é rigorosamente verdadeiro, tratar o TDAH começa sim por melhorar os hábitos e o estilo de vida. Fazer exercícios aeróbicos, que aumentam a vascularização cerebral, consumir alimentos que garantem um fluxo regular de energia para o cérebro, evitando montanha-russa metabólica é um pré-requisito básico. É uma fantasia imaginar que, para se tratar TDAH, basta uma pílula pela manhã. O cérebro precisa ser treinado para funcionar bem. Ele se adapta àquilo que se exige dele, se torna mais capaz de realizar, conforme é colocado diante dos desafios. E o melhor: tudo sem uso de medicamentos. Superar os déficits do TDAH demanda encarar o dia-a-dia de um jeito diferente. Faz parte essencial do manejo dos sintomas criar estratégias de enfrentamento, novas maneiras de fazer as coisas, de modo a tornar mais fácil o que hoje parece impossível. Claro que é simples de dizer e bem complicado em realizar. Afinal, quem sofre com TDAH sabe quantas vezes já prometeu mudar, apenas para fracassar em seguida.

O que os pais podem fazer para prevenir ou ajudar no tratamento de TDAH? Substituir jogos eletrônicos por jogos mentais: Um dos caminhos para condicionamento cerebral são os jogos de estratégia, de memória e de linguagem. Aqueles apenas um pouco mais velhos lembram do que as crianças costumavam brincar nos dias de chuva. Montar quebra-cabeças, trava-línguas, WAR, Banco Imobiliário para não dizer Damas e Xadrez. Que criança brinca assim hoje em dia? Que criança treina memória, quando tem diante de si estimulações tão sedutoras e engajadoras, provindas das mais variadas “telinhas”? Fica esta dica para os pais, escolham as brincadeiras de suas crianças. É um dos melhores remédios naturais, para fortalecer a atenção, memória, velocidade mental; além de seguimento de regras, capacidade de resolução de problemas e amadurecimento em geral, como aceitar erros, perdas e resiliência diante de frustrações.

Caso não seja tratado ainda criança, o problema pode trazer consequências na vida adulta? 

Quando não é diagnosticado e tratado na infância o TDAH em adultos causa impacto negativo especialmente na área profissional e nos relacionamentos. Prejudica a concentração e o foco nas atividades, levando a erros desnecessários e incompatíveis com as capacidades da pessoa. Há também desorganização, adiamentos crônicos e lentidão. A hiperatividade mais comum é mental, não mais física como nas crianças, em conjunto com a tendência a fazer tudo ao mesmo tempo (multitarefas), seguido pela frustração da não-realização dos objetivos. Familiares e companheiras (os) usualmente reclamam de “não serem prioridade” e “não serem ouvidos”.

Índice de algumas comorbidades em adultos devido ao TDAH:

  • Depressão – 20 a 30%
  • Transtorno de ansiedade – 20 a 30%
  • Uso de substâncias – 25 a 50%
  • Tabagismo – 40%
  • Distúrbio alimentar – 20 a 30%
  • Transtorno de personalidade antissocial – 25%
  • Transtorno de sono – 75%

Com os tratamentos adequados o TDAH pode ser tratado e bem gerenciado. Isso tem potencial para trazer uma grande mudança, alivio e mais qualidade de vida, tanto na escola, trabalho e vida familiar. Todo esforço direcionado à procura de um bom diagnostico valerá a pena. É o primeiro passo neste caminho.


Comentários

Não nos responsabilizamos pelos comentários feitos por nossos visitantes, sendo certo que as opiniões aqui prestadas não representam a opinião do Grupo Bússulo Comunicação Ltda.