16/10/2017

Psicóloga de Engenheiro Coelho fala sobre transtornos relacionados ao TDAH

Drª Adriana Marques dos Reis explica sobre os tipos de TDAH e os sintomas mais comuns em cada caso

Noemi Almeida

O TDAH (Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade) é um problema recorrente e que se apresenta de várias maneiras.  É um transtorno de “base orgânica”, associado a uma disfunção em áreas do córtex cerebral e, quando seu funcionamento está comprometido, ocorrem dificuldades com concentração, memória, hiperatividade e impulsividade. Apesar de não ter causa definida sobre essas alterações, estudos sinalizam uma forte correlação entre TDAH com hereditariedade. 

Mesmo com a forte relação biológica, o TDAH dispõe de fatores comportamentais. Nossa maneira de ser, bem como nossa personalidade, hábitos e preferências são resultado de uma interação entre nossa carga genética e todas as experiências pelas quais passamos, desde antes mesmo do nosso nascimento. A Drª Adriana Marques dos Reis, psicóloga formada há dez anos, fala sobre os tipos de TDAH e os sintomas mais comuns em cada caso.

Confira a entrevista na íntegra: 

Como é o diagnóstico do TDAH?  O diagnóstico do TDAH começa com uma extensa análise clínica do caso por um psicólogo quando são investigadas as características cognitivas, comportamentais e emocionais; histórico familiar, desenvolvimento infantil, vida escolar/profissional; relacionamentos, dificuldades e expectativas mencionadas pelo paciente, que possam estar relacionadas a distração, hiperatividade /agitação e impulsividade, dentre outros sintomas. A partir desta análise preliminar e das características do caso, o psicólogo pode solicitar outros testes e exames, desde exames médicos – clínicos e/ou neurológicos ou outros exames psicodiagnósticos, como avaliação cognitiva, neuropsicológica, comportamental e emocional.

Existe um exame específico para TDAH? Não há nenhum exame ou teste único e específico para TDAH como, por exemplo, exames de sangue para doenças físicas. Mesmo exames médicos – como eletroencefalograma ou ressonância magnética – ou neuropsicológicos são apenas complementares ao diagnóstico. Os exames clínicos e psicológicos, médicos ou até mesmo de outras áreas da saúde são uma colaboração preciosa, contudo sempre subordinados ao julgamento clínico do especialista. Servem para aprofundar o conhecimento do caso, ajudar a decidir qual o melhor tratamento ou excluir outras hipóteses diagnósticas.

Quais os critérios para diagnosticar o TDAH? Presença de sintomas em intensidade significativa ou seja que tenham causado danos importantes para a pessoa. Os sintomas devem ter aparecido desde a infância, dentro das manifestações apropriadas em crianças. Sintomas que aparecem apenas na idade adulta são provavelmente devidos a outras causas não TDAH. Os sintomas não são melhor explicados por algum outro transtorno ou problema com sintomas similares como ansiedade, depressão, stress crônico, baixa escolaridade, transtorno afetivo bipolar, déficits cognitivos, entre outros.


“Não há nenhum exame ou teste único e específico para TDAH”


Quais os tipos de TDAH? Os tipos de TDAH  são:

TDAH Tipo desatento 

A criança perde facilmente a atenção do que está fazendo e comete erros por prestar pouca atenção a detalhes. Muitas vezes se distrai com seus próprios devaneios ou então um simples estímulo externo a tira do que está fazendo. Sintomas:

  • Dificuldade de concentração em palestras, aulas, leitura de livros;
  • As vezes parece não ouvir quando o chamam (muitas vezes é interpretado como egoísta, desinteressado);
  • Durante uma conversa pode distrair-se e prestar atenção em outras coisas principalmente quando está em grupos. As vezes capta apenas partes do assunto, outras, enquanto “ouve” já está pensando em outra coisa e interrompe a fala do outro;
  • Relutância em iniciar tarefas que exijam longo esforço mental;
  • Dificuldade em seguir instruções, em iniciar, completar e só então, mudar de tarefa (muitas vezes é visto como irresponsável);
  • Dificuldade em organizar-se com objetos (mesa, gavetas, arquivos, papéis) e com o planejamento do tempo (costuma achar que consegue fazer muita coisa ao mesmo tempo e que o dia tem 48 horas);
  • Problemas de memória a curto prazo: perde ou esquece objetos, nomes, prazos, datas;
  • Durante uma fala pode ocorrer um “branco” e a pessoa esquecer o que ia dizer.

É necessário que a pessoa tenha 6 ou mais características de forma crônica, num mínimo de 6 meses para haver possibilidade de diagnóstico.

TDAH (DDA) tipo hiperativo/impulsivo
Sintomas:

  • Inquietação – mexe as mãos e/ou os pés quando sentado, musculatura tensa, com dificuldade em ficar parado num lugar por muito tempo. Costuma ser o “dono” do controle remoto;
  • Faz várias coisas ao mesmo tempo, está sempre a mil por hora, em busca de novidades e de estímulos fortes. Detesta o tédio. Consegue ler, assistir televisão e ouvir música ao mesmo tempo. Muitas vezes é visto como imaturo, insaciável;
  • Pode falar, comer ou comprar compulsivamente e se sobrecarregar no trabalho. Muitos acabam estressados, ansiosos e impacientes: são os workaholics (viciados em trabalho);
  • Tendência ao vício: álcool, drogas, jogos, internet e salas de bate papo;
  • Interrompe a fala do(s) outro(s) e sua impaciência faz com que responda perguntas antes mesmo de serem concluídas. Costuma ser prolixo ao falar, perde sua objetividade em mil detalhes, sem perceber como se comunica. No entanto, não tem a menor paciência em ouvir alguém como ele, sem se dar conta que é igual;
  • Baixo nível de tolerância: não sabe lidar com frustrações, com erros (nem os seus, nem dos outros). Muitas vezes sente raiva e se recolhe;
  • Impaciência: não suporta esperar ou aguardar por algo: filas, telefonemas, atendimento em lojas, restaurantes;
  • Instabilidade de humor: ora está ótimo, ora está péssimo, sem que precise de motivo sério para isso. Os fatores podem ser externos ou internos, uma vez que costuma estar em eterno conflito;
  • Dificuldade em expressar-se: muitas vezes as palavras e a fala não acompanham a velocidade da sua mente. Muitos, quando estão em grupo, falam sem parar sem se dar conta que outras pessoas gostariam de emitir opiniões, fazer colocações, e o que deveria ser um diálogo transforma-se num monólogo que só interessa a quem está falando;
  • A comunicação costuma ser compulsiva, sem filtro para inibir respostas inadequadas, o que pode provocar situações constrangedoras e/ou ofensivas: fala ou faz e depois pensa.
  •  Tem um temperamento explosivo: não suporta críticas, provocações e/ou rejeição;
  • Dificuldade em seguir regras ou normas preestabelecidas. Daí a grande importância na escolha da profissão. O ideal é que o indivíduo trabalhe com criatividade e que tenha certa liberdade de fazer “tudo do seu jeito, no seu tempo”, desde que crie uma estrutura para mantê-lo em seu objetivo. Dificilmente conseguirá sucesso num trabalho burocrático, rotineiro ou repetitivo;
  • Rompe com certa facilidade relacionamentos de trabalho, sociais e/ou afetivos.
  • Pode mudar inesperadamente de planos, metas;
  • Sexualidade instável: pode alternar períodos de grande impulsividade sexual com outros de baixo desejo;
  • Hipersensibilidade: pode melindrar-se facilmente, tendo uma tendência ao desespero, como se seu mundo fosse desmoronar-se a qualquer instante, incapacitando-o muitas vezes de ver a realidade como ela realmente é, e buscar soluções.

É necessário que a pessoa tenha 6 ou mais características de forma crônica, num mínimo de seis meses para haver possibilidade de diagnóstico.


“A criança perde facilmente a atenção do que está fazendo”


TDAH (DDA) tipo combinado

É necessário que a pessoa tenha 6 ou mais características do tipo desatento e 6 ou mais características do tipo hiperativo/impulsivo, de forma crônica e desde criança para haver possibilidade de diagnóstico de TDAH (DDA). O cérebro, em si, somente se desenvolve em função destas interações, de toda a estimulação que recebe e das aprendizagens que delas decorrem. Podemos dizer, sem sobra de dúvida, que o cérebro se reconstrói literalmente ao longo da vida. No entanto, a probabilidade do TDAH se manifestar ou não, bem como a intensidade dos sintomas tem relação direta com as experiências pessoais e o estilo de vida.


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