06/05/2018

História de Engenheiro Coelho passa por Abílio Guidotti

Homem de 91 anos viu as diversas fases da cidade

Michael Harteman

A história de uma cidade pode ser construída por suas edificações, infraestrutura, perímetros e pavimentos. No entanto, o essencial na trajetória de uma cidade são as pessoas que nela residem. Algumas estão ali de passagem, outros acabam de chegar. Há também aqueles que nasceram naquele local, mas tem planos de ir embora. É de história que uma cidade é feita. Nesse mês, Engenheiro Coelho completa 27 anos de emancipação. Não se engane, antes disso muita coisa aconteceu para que a cidade pudesse chegar até os dias de hoje. Muitos trabalharam arduamente, debaixo de sol, nesse solo vermelho. Dentre os pares de punhos trabalhadores de homens e mulheres, é preciso destacar o dono de um deles, Abílio Guidotti, que nasceu, cresceu e viveu seus 91 anos em solo coelhense.

Guidotti, de família Italiana, nasceu no dia primeiro de dezembro de 1927. Os pais chegaram ao Brasil após uma longa viagem de navio que, na época, ainda era movido a vapor. Nesse tempo, o solo coelhense era dividido por algumas colônias, famílias que viviam da agricultura. Abílio Guidotti cresceu com outros nove irmãos. O tempo entre as brincadeiras e correria de criança foi encurtado, o trabalho começou cedo.  “Desde muito jovem eu comecei a trabalhar, sempre com serviço pesado, carregava caminhão com sacaria, pedra, areia, tijolo, tudo que você imaginar”, exclama Guidotti.

O simpático e amável Abílio Guidotti já não consegue lembrar com exatidão os anos em que aconteceram os fatos mais importantes de sua vida. Ano em que se casou e nascimento dos filhos foram apagados de sua memória. A esposa, falecida há alguns anos, se chamava Odília. Foi com ela que Guidotti tece seus dez filhos. Todos eles sustentados com o trabalho sério e dedicado, reconhecido por poucos. “Naquela época a gente não ganhava nada, era um salariozinho apenas para sobreviver mesmo”, conta o senhor. Entretanto, mesmo admitindo que era por muitas vezes explorado, Guidotti lembra com carinho de um dos vários patrões que teve ao longo da vida. “Ah, o ‘véio’ Forner gostava de mim, contava sempre com meu trabalho”, relembra Guidotti ao falar de Pedro Forner.

Guidotti é quase que um patrimônio de Engenheiro Coelho. As frutas, tijolos e qualquer tipo de produto que passou por seus ombros, saiam para diversas partes do país. Ele mesmo, nunca saiu. O homem, de mãos sofridas, conta que não conhece muita coisa. “Fui para uma ou outra cidade da região, fazer entrega, além disso, conheci Campinas (SP), a família da minha esposa era de lá”, conta. Perguntado sobre um período marcante, Guidotti conta sobre a revolução de 32, movimento armado ocorrido no estado de São Paulo, entre julho e outubro de 1932, que tinha por objetivo derrubar o governo provisório de Getúlio Vargas. “A gente teve muito medo, eu era criança, meu avô fez um rancho de sapê, ficamos ali por 4 ou cinco dias”, rememora Guidotti.

Termos como ‘valorização profissional’, ‘plano de carreira’ ou ‘oportunidades’ eram totalmente desconhecidos na realidade vivida por Guidotti. O caminho que seguiu era, na verdade, o único que ele tinha. Nem por isso esbravejou ou murmurou. “Aquele tempo emprestava camarada. Quando sabia que alguém era bom, o outro fazendeiro pedia emprestado. Muitas vezes pediam eu e um outro, que se chamava Aparecido, emprestado”, conta.

A vida de trabalhador foi essa. Enquanto a cidade se desenvolvia, Guidotti colhia, carregava. “Eu vi tudo começar, os bairros surgirem, não tinha nada aqui, era um povoado que chamávamos de Guaiquica, só mais tarde veio o nome Engenheiro Coelho”, explica. Atualmente, esse senhor cheio de histórias vive em um bairro rural de Engenheiro Coelho, acompanhado de um dos filhos, Nivaldo Guidotti, que cuida com muito carinho do pai. Já com a saúde frágil, Abílio Guidotti conta que há vários anos não vai até a parte urbana de Engenheiro Coelho. “Acho que deve fazer uns 15 anos, não sei nem como é que está lá”, exclama.

Abílio Guidotti, um rico personagem que tem muito a ver com a história coelhense. Além disso, sua dedicação, responsabilidade, retidão e compromisso com o trabalho, servem de exemplo para todos os que hoje tem a possibilidade de levar essas qualidades pelos vários caminhos que a vida proporciona.

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