03/06/2018

“Acham que todo islâmico é terrorista”, diz sírio morador de Engenheiro Coelho

Abud Abdu está no Brasil há três anos

Michael Harteman

No último dia 16 de maio os muçulmanos começaram a respeitar um período de jejum, chamado Ramadã. Até o dia 14 de junho, os adeptos da fé muçulmana não poderão fazer nenhuma refeição durante o dia e o jejum pode ser quebrado durante a noite.

Para falar um pouco sobre isso, o Portal Coelhense conversou com Abud Abdu. Nascido na Síria, ele está no Brasil há três anos. Além disso, o jovem está cursando o segundo ano de direito no Centro Universitário Adventista do Estado de São Paulo (Unasp).

Abud também falou sobre o preconceito com a fé islâmica e a vida dele no Brasil.

Confira a entrevista na íntegra:

Abud, o que é o Ramadã? Nós, os muçulmanos, temos um período de jejum. É um mês sagrado que se chama Ramadã. Nesse período é o obrigatório fazer jejum do nascer do sol até o pôr do sol, todos os dias durante 30 dias. Nem água se pode tomar. Pode comer todos os tipos de comidas na hora de quebrar o jejum, ou seja, durante a noite podemos comer normalmente. O ideal é fazer como nosso profeta Mohamad, quebrar o jejum com três tâmaras e um copo de leite para que o primeiro alimento desça leve no estômago. Isso é melhor para a saúde.

Como enfrenta esse período de jejum?  Eu faço o jejum normal e vou para faculdade. Durante a tarde eu descanso e estudo, e no pôr do sol eu quebro o jejum. De noite durmo e na madrugada acordo para comer alguma coisa antes de começar o jejum de novo. No fim do Ramadã temos uma grande festa para celebrar o fim do jejum, é uma festa sagrada. Fazemos um café de manhã com carne de cordeiro, entre outras coisas. As pessoas se reúnem com muita alegria.

Qual o significado espiritual desse período? Esse mês ensina as pessoas sobre a esperança, a fé, e o amor ao próximo. Além disso, agradecer a Deus sempre e não reclamar, pois Deus sempre escolhe o melhor para os servos dele. O Ramadã é um mês de oração e, também, para ler o alcorão, livro sagrado dos muçulmanos. É um mês de misericórdia, mês de felicidade e tranquilidade. O jejum é muito bom para saúde e o corpo, melhor do que mil remédios para limpar o sangue e o corpo. Um mês para que as pessoas sintam a dor dos outros que não têm comida, água ou dinheiro. Além disso, um mês para agradecermos a Deus por tudo o que Ele deu para a gente. Também é bom dar dinheiro para quem precisa e visitar os familiares.

Mas você, sente que há preconceito em relação ao Islamismo? As pessoas acham que a maioria dos árabes são terroristas e bravos. Nós, por exemplo, tínhamos a visão de que no Brasil só tinha futebol e samba (risos). Essa visão pode ter um pouco de sentido, mas morando aqui eu conheci um outro lado desse país.

Você tem sido bem acolhido pelo povo brasileiro? O Brasil é um país maravilhoso, com povo amoroso. Além disso, têm várias culturas e costumes, escolas, faculdades, igrejas e mesquitas, e muitas outras coisas boas. Temos várias regras na religião muçulmana, mas o problema é que cada pessoa entende de forma diferente. É parecido com o que acontece com nossos irmãos adventistas. No sábado não pode comprar nada, mas se a pessoa precisar de um remédio, pode comprar, pois a religião nasceu para facilitar a vida das pessoas e não para deixar mais difícil e complicada. Gosto da vida e de conhecer outras culturas. O povo aqui no Brasil são receptivas com suas crenças. Todo mundo respeita esse clima religioso aqui.

Você acredita que um dia veremos mais respeito com relação à religião das outras pessoas? As religiões estão dentro do coração de cada pessoa. Temos que amar o próximo e respeitá-lo. Somos todos irmãos, juntos somos mais fortes e mais felizes. São 23 países árabes e cada país tem culturas e costumes diferentes! As pessoas bravas são minoria. A maioria nesses países são mais cabeça aberta. Por exemplo, como eu estou morando aqui no Brasil, tenho que conviver com a cultura brasileira. Minha cultura está no meu coração e se alguém quiser conhecê-la, eu mostro, converso e ensino.

Você já está adaptado a viver no Brasil? Me acostumei com a cultura daqui e amo o povo brasileiro, sou muito grato e feliz por estar aqui.

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