16/07/2017

Capitão Hoio analisa segurança de Engenheiro Coelho

Hoio faz um panorama sobre questões ligadas a entorpecentes, sistema carcerário, maioridade penal e violência doméstica

Diego Faria

Capitão Alexandre Hoio de Sousa, atual comandante da Polícia Militar (PM) em Engenheiro Coelho, é nascido em São Paulo (SP). Ele ingressou na carreira de policial militar em 1999 como soldado e se formou oficial em 2004. É instrutor de tiro desde 2009 e instrutor de gerenciamento de crise (ocorrências com reféns e explosivos). Já trabalhou na Capital paulista e também em cidades do interior, como Campinas (SP) e Cosmópolis (SP), onde atua na base do 19º Batalhão de Polícia Militar do Interior (19ºBPM/I) há um ano. Além disso, o capitão possui bacharelado em Direito e pós-graduação na área jurídica.

Nesta entrevista ao Portal Coelhense, Hoio fez um panorama sobre questões ligadas a Segurança, entre elas, entorpecentes, sistema carcerário, maioridade penal e violência doméstica.

Confira a entrevista na íntegra:

CAPITAOHOIO-5-1500062931-1500066219

De acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP), Engenheiro Coelho e região apresentou crescimento nos índices de furto, se comparado aos primeiros cinco meses do ano passado. Isso se deve a quais fatores? Quando falamos de segurança pública, envolve muitos fatores. Hoje enfrentamos uma crise econômica muito grande e, em paralelo a isso, o uso de drogas também vem crescendo. São fatores que, com certeza, influenciam. À nível Brasil, o crescimento é geral. Como gestor de Segurança, eu foco mais em crimes de maior gravidade, como o roubo, que gera a sensação traumática de maior insegurança, e isso estamos conseguindo combater com mais efetividade. Já o furto, é um delito que, quando notado, já aconteceu. Mas com a atuação do Conselho de Segurança (Conseg) de Engenheiro Coelho, implantamos o Programa Vizinhança Solidária, tendo a participação da população nesse monitoramento. Quando o morador sai em viagem, por exemplo, outro munícipe serve como responsável das casas vizinhas e pode acionar os órgãos de Segurança durante alguma suspeita.

Como a população pode se precaver, não só contra furtos em geral, mas também a assaltos à mão armada, inclusive a residências? O infrator visa a facilidade. Quando uma pessoa anda atenta no trânsito com o vidro fechado, ou na rua sem expor celular e demais pertences, isso contribui para a segurança dela. As redes sociais, por exemplo, te expõe muito, então, quando alguém está em viagem e posta isso na internet, colabora como informação aos criminosos. É preciso evitar situações de risco, como não andar sozinho à noite, dar uma volta no quarteirão antes de guardar o carro na garagem, são cuidados essenciais para a população, mas infelizmente, as pessoas relaxam e não se atentam a isso, até que ocorra o pior. É preciso ficar a atento.

Em Engenheiro Coelho (SP) tem crescido o uso de armas brancas (facas) em ações de roubo, o porquê desce aumento? O porte da arma de fogo, por si só, já é um crime. Um criminoso pode ser abordado no caminho do local onde efetuaria o assalto, sendo preso em flagrante por isso, o que não acontece com quem porta uma arma branca, no caso, uma faca, por exemplo. Então, a posse da arma branca tem crescido, exatamente por esse fator, pela menor evidência e chances desse infrator ser preso.

Engenheiro Coelho possui índices de criminalidade maiores que cidades vizinha maiores, como Artur Nogueira (SP). Quando se fala em Engenheiro Coelho, existe uma população mais rural, com maior número de habitantes de outros estados, pessoas que vivem realidades diferentes. Temos notado que ações de roubo nesse município são menores, mas os homicídios apresentam números maiores. O maior problema que existe hoje em Engenheiro Coelho são os bares, onde se concentram delitos de tráfico de drogas e discussões que, muitas vezes, terminam em confusões e brigas. Devido a isso, temos aumentado a atuação de operações nesses estabelecimentos comerciais, o que transparece no número de registro de ocorrências. Mas com o tempo vamos alcançar bons resultados, assim como foi feito em Cosmópolis (SP) e Artur Nogueira (SP).

CAPITAOHOIO-1500064074-1500066224

O que motiva adolescentes a entrarem no mundo do crime? Esse é um fator cultural e, também, entra a questão da inversão de valores. O jovem, hoje, sente a necessidade de ser aceito no meio, para isso, ele quer andar na moda e consumir produtos que o ofereça status, seja pela roupa ou pela posse de um carro/moto. Muitas vezes, o traficante, ou assaltante, mostra um padrão elevado devido à conduta criminosa dele, o que atrai o jovem a querer seguir esse caminho. Isso é parte de uma ideia capitalista e consumista. Para barrar isso, é preciso incutir valores na vida desse jovem, com diálogo, educação, isso é essencial.

Você é a favor da redução da maioridade penal? Como uma visão pessoal, eu entendo que isso seria necessário para o Brasil. A impunidade ao menor infrator é muito grande. Quando apreendido, ele muitas vezes é detido e liberado. Em paralelo a isso, o número de adolescentes envolvidos em delitos é cada vez mais crescente, não só em São Paulo, mas em todo o país. Por isso, sou a favor sim.

Qual a melhor maneira de combater o tráfico de drogas? Quando falamos em uso e tráfico de drogas é um tema complexo que vai muito além da questão de segurança, mas passa a ser uma questão de saúde e fator cultural. Muitos começam o uso a fim de serem aceitos pelos amigos, com isso, é preciso que haja uma mudança de cultura para esse indivíduo. O trabalho de base da Educação, a retomada do respeito pela família perante esse cidadão, talvez pudesse mudar essa situação no país. Mas novamente eu digo, isso passa por uma questão cultural. Hoje, o que temos, é uma crise de autoridade, não só frente às forças de Segurança, mas também nas escolas, onde não se respeita mais o professor, não se respeita os pais. Esse resgate é necessário, o mundo carece de mais humanização, respeito, educação e de valores civis e sociais.

Qual a maior porta de entrada para as drogas? Acho que é uma questão gradativa. O jovem, muitas vezes, começa sim no álcool, e depois, ele precisa experimentar outras substâncias de maior efeito, como a cocaína e o crack para se satisfazer. Ele mesmo precisa entender que isso faz mal a ele, que isso é um problema e exige tratamento. Normalmente, o usuário tem dificuldade em aceitar isso e buscar ajuda. O grande problema das drogas é este: o escalonamento dos tipos de substâncias, algo que afeta toda a família e aqueles que cercam o usuário.

CAPITAOHOIO-3-1500062926-1500066214

Tem sido eficaz a atuação do Conselho Comunitário de Segurança Pública (Conseg) e o trabalho junto à população? O Conseg de Engenheiro Coelho está ativado e tivemos uma primeira reunião agora, no início de julho. Toda primeira quinta-feira do mês nos reunimos e toda a população está convidada a participar, assim como tem participado. Esse trabalho é de extrema relevância e a importância deste setor vai além de questões políticas. É um espaço de oportunidade para a população se aproximar dos órgãos de Segurança. Nessas reuniões é possível detectar características criminais que normalmente não são notadas no dia a dia. Os moradores podem frisar, por exemplo, locais de uso e venda de drogas nas imediações dos bairros, pontos que não costumam estar nos índices criminais e que torna difícil de tomarmos ciência. Nesse momento, nas reuniões e audiências do Conseg, sabemos o que está além dos dados estatísticos e, a partir daí, formamos uma estratégia de inteligência em ação e combate a esses delitos. O foco não é fazer do Conseg um encontro de filosofias, almejando parcerias somente, mas sim torná-lo como algo prático, expor o problema, tomar conhecimento e agir a fim de resolvê-lo. Mas para isso, é preciso haver a participação de todos, da população, dos políticos e governantes, agentes de Segurança e, também, a divulgação dos meios de imprensa, assim como o Portal Coelhense sempre tem feito.

O crime organizado tem alcançado representatividade não só nas capitais, mais também em cidades do interior. Qual a melhor estratégia para frear essa atuação? O trabalho de inteligência é fundamental e também acontece por meio da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP), assim como tem sido feito pela Polícia Militar e, principalmente, pela Polícia Civil. Mas é preciso sempre se reinventar e haver a evolução desse trabalho, buscando novas formas de monitoramento e observação dessas facções criminosas. A mão da Polícia tem que pesar cada vez mais contra o mal feitor em prol da penalidade de crimes, diferente do tratamento que deve ser dado à população de bem, que é a grande vítima da criminalidade.

Qual a melhor maneira de evitar que um ex-detento retorne a prática de delitos? Sabemos que o sistema carcerário não tem o poder de ressocialização. A imagem que fica é que todo, ou pelo menos a maioria dos detentos hoje acabam como reincidentes nesse sistema. Isso não sou eu quem digo, é mostrado nos índices. A nossa forma de punir não está funcionando, tanto é que a crise carcerária não é segredo para ninguém. O trabalho dentro e fora dos presídios talvez fosse uma maneira de reeducação e também uma estratégia do detendo aprender uma profissão e sanar o gasto que é gerado com esse setor. É mais caro para o Governo manter um presidiário do que um estudante na rede pública de ensino. Acredito que é necessário repensar o sistema de ressocialização e punição, a própria sociedade mudaria a maneira de olhar para o detento.

CAPITAOHOIO-7-1500062937-1500066221

Qual a melhor estratégia para a redução da violência doméstica? Falando em violência doméstica, existem duas problemáticas: primeiro o medo; segundo, o gostar. A mulher tem que se conscientizar que ela não deve ter medo, para o bem e proteção dela mesma. As lei no Brasil tem sido muito mais severas se tratando desse tipo de delito. Quando ocorrências ligadas à violência contra a mulher chegam a Polícia Militar tomamos todas as medidas possíveis para a proteção dessa vítima. Inclusive, a Promotoria Pública de Artur Nogueira tem prezado por isso. Mas, além disso, o não temer é o caminho para que a mulher tome uma atitude e tenha essa conscientização. O homem que bate em uma mulher, ele não gosta dela de verdade, é mais um sentimento possessivo mesmo. Quando esse marido ou companheiro é penalizado, ele vai pensar melhor antes de agir novamente dessa maneira. Não vale a pena viver nessa situação, é preciso denunciar. A Polícia vai tomar posição contra isso, seja no atendimento da ocorrência, na orientação para a mulher ou, até mesmo, em relação ao respeito da medida protetiva.

……………………………………..

Tem uma sugestão de reportagem? Clique aqui e envie para o Portal Coelhense.


Comentários

Não nos responsabilizamos pelos comentários feitos por nossos visitantes, sendo certo que as opiniões aqui prestadas não representam a opinião do Grupo Bússulo Comunicação Ltda.