11/06/2017

Conheça a história de uma das primeiras professoras de Engenheiro Coelho

Amábile Altrão Castilho chegou na cidade em 1982

Michael Harteman

Calcula-se que mais de 90% dos brasileiros sabem ler e escrever. Podemos dizer que esse grupo de pessoas são privilegiadas, já que a leitura pode proporcionar uma infinidade de experiências. Contudo, não seria possível ter essa nobre arte se não fosse o trabalho árduo dos professores. Em Engenheiro Coelho, uma simpática professora se destaca devido à imensa experiência em alfabetização de crianças e adultos. O nome dela é Amábile Altrão. A mulher que já educou milhares de alunos pelos seus ensinos e se tornaram mais poderosos ao adquirirem a capacidade de ler e escrever.

Amábile nasceu em Lucélia (SP) e faz parte de uma família composta por doze irmãos, sendo nove mulheres. “Sempre fui uma criança que gostava de estudar, mas não imaginava em momento algum que me tornaria uma professora”, conta. Após o ginasial – como era conhecido o final do ensino fundamental naquela época – ela começou a fazer um curso técnico em contabilidade e, também, concluiu o magistério, curso exigido na época para se tornar um professor. Além de conhecimento, o curso de contabilidade proporcionou à educadora a aproximação ao amor de sua vida, Newton Ferraz Castilho. “Fomos apresentados por uma amiga em comum, eu era muito tímida e precisei de um empurrãozinho dela”, relembra sorrindo.

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Como parar de estudar não estava nos planos da jovem, ela iniciou o curso de Educação Física. Viajava de trem todos os dias para Tupã (SP), onde era a sede da faculdade. Posteriormente, um ano antes que o curso terminasse, em dezembro de 1974, Amábile passou a ter Castilho no nome, após o casamento com Newton. “Nos casamos e fomos morar em Adamantina e eu continuei viajando por mais um ano para Tupã, com o objetivo de concluir o curso de educação física”, pontua.

Na nova cidade, Amábile começou a dar aulas de educação física e conta que foi muito difícil iniciar como professora. “Na primeira vez que me deparei com os alunos, minhas pernas tremeram, foi muito difícil, eu ainda estava insegura”, relembra com o rosto de quem se lembra exatamente do momento assustador. Além das aulas na cidade em que morava, a jovem professora também viajava para Flora Rica (SP) para lecionar. “Eu estava grávida do meu primeiro filho e viajava por uns 40 minutos com um fusquinha até chegar no local de trabalho”, explica.

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Depois de um tempo, o casal se mudou para a cidade de Serrania (MG). Castilho trabalhava em um banco e Amábile parou de trabalhar fora. “Enquanto morei em Minas eu fui ‘do lar’, mas o que não falta é trabalho quando a gente está em casa”, relembra a professora, que era também cuidava da casa e do filho Fabrício, que tinha cinco meses quando a família chegou em Minas Gerais. Alguns anos se passaram e a família cresceu, o casal ainda teve outras duas filhas, Amanda e Poliana.

Retorno à profissão

A mudança de lar não parou por aí. Em 1981, a família se mudou para Itaporanga (SP). Foi quando Amábile voltou a trabalhar como professora. Ela conta que ainda era inexperiente e que sofreu bastante dentro das salas de aula. “Foi minha primeira experiência com crianças, foi horrível, eu ia dar aula em um sítio e não tinha apoio algum, dei três meses de aula nesta cidade e foi um desastre”, recorda.

Em janeiro de 1982, a cidade de Engenheiro Coelho entrou na vida de Amábile. Castilho foi transferido para a agência do Bradesco do município coelhense. “Não tinha nada aqui, era só plantação de laranja e a cidade era muito pequena”, descreve. Quando chegou na cidade, a professora logo começou a dar aulas de Educação Física em Limeira (SP) e em Cosmópolis (SP), além de lecionar como substituta dentro de Engenheiro Coelho. Assim, Amábile foi adquirindo experiência e crescendo na carreira de professora. Aos poucos, o que era difícil de executar, passou a fazer parte da rotina da educadora. “Eu sempre tive fama de durona, mas tinha bons resultados com os alunos”, constata feliz.

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Em 1987, uma nova transferência de Castilho levou a família para São José dos Campos (SP). “Quando cheguei lá, logo consegui dar aulas como substituta, mas resolvi fazer um concurso para me tornar professora do estado”. O resultado não poderia ter sido outro, sempre dedicada, Amábile foi aprovada no concurso e iniciou com uma turma fixa naquela cidade. Depois de alguns anos, o marido ficou desempregado, mas Fabrício – seguindo a carreira do pai – trabalhava em uma agência bancária de São José dos Campos (SP).

Mas não tinha jeito, o lugar da família era mesmo em Engenheiro Coelho. Em 1992, o filho foi transferido para Artur Nogueira (SP). “Como eu era professora do estado, pedi para me transferirem para Artur”, afirma. Depois de um tempo dando aulas na cidade vizinha, Amábile foi transferida para Engenheiro Coelho.

“Voltamos novamente para cá, isso foi em 1997, a cidade já estava bem diferente da época em que moramos aqui”, opina. Não era só a cidade que estava diferente, Amábile também já não era a mesma. Agora, ela era uma professora experiente, totalmente envolvida com as salas de aula. “Quando voltei para cá eu já era outra pessoa, tirava de letra as dificuldades da profissão, posso dizer que sou muito realizada com tudo o que fiz”, admite com um largo sorriso.

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 Já aposentada há algum tempo, Amábile Altrão Castilho não pensa em parar de dar aulas. Atualmente, ela realiza alfabetização para adultos e conta que faz isso com enorme prazer. “É uma alegria você conhecer uma pessoa que não sabe reconhecer uma letra, e ensinar essa pessoa a ler, é algo que muda a vida deles, ver uma pessoa toda feliz contando que está lendo as placas, não tem preço”, exclama satisfeita.

Ter ensinado tanta gente a nobre arte de ler e escrever, faz com que Amábile encontre ex-alunos nas ruas de Engenheiro Coelho. “A gente encontra e às vezes não reconhece, mas quem teve aula sempre se lembra de seus professores”, explica a educadora.

Amábile é feliz com a carreira que conquistou e se dedica há anos, porém, há algo que entristece o coração da simpática senhora. “Hoje ,o professor está sendo deixado de lado, as pessoas não valorizam mais nossa profissão, as pessoas precisam entender que para aprender qualquer coisa é necessário um professor, mas, infelizmente, não temos mais o respeito que tínhamos antigamente”, lamenta.

Embora aponte as dificuldades atuais, a professora segue fazendo o que mais ama, ensinar. A experiência obtida ao longo da vida faz dessa educadora uma pessoa especial, que continua repartindo tudo o que aprendeu na vida com pessoas que buscam mais intelecto. Além disso, Amábile é um exemplo de que o professor precisa recuperar o prestígio de outrora, afinal, como ela mesmo diz, sem professor não há aprendizado.

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