19/11/2017

Morador de Engenheiro Coelho coordena projeto social com moradores de rua

Tiago Alves é organizador do “Ajuda Urbana”, que oferece alimentos, boa conversa e esperança à pessoas em situação de vulnerabilidade social

Nathália Lima

Ajudar o próximo. Em um mundo carente, cheio de desigualdade social e poucos recursos para o desenvolvimento, essa é uma das principais maneiras pelas quais muitas pessoas conseguem sobreviver. Propósito seguido por diversas pessoas, o amor ao próximo representa mais do que apenas doação, mas comprometimento e empatia.

Este é o lema principal do Ajuda Urbana, um projeto desenvolvido por estudantes do Centro Universitário Adventista de São Paulo, em Engenheiro Coelho. Para tanto, semanalmente, voluntários do projeto se mobilizam para levar conforto e esperança através de músicas, boa conversa e alimentação para pessoas em situação de rua.

Dentre eles está Tiago Alves, organizador do projeto. Com 30 anos de idade e terminando a faculdade de Engenharia Civil, o responsável pelo Ajuda se diz realizado na atividade que coordena.

Confira a entrevista na íntegra:

Há quanto tempo existe o Ajuda Urbana? Como aconteceu a criação deste projeto? Foi entre os anos de 2012 e 2013. Uma estudante de teologia da Universidade Adventista del Plata, na Argentina, trouxe esse projeto de lá  para cá. Já faz 10 anos que existe o Ajuda urbana naquele país. O projeto foi bem aceito pela organização aqui do Unasp e começou com umas cinco pessoas, um carro e alguns lanches.

Quais são os principais objetivos deste voluntariado? Nosso principal objetivo é ajudar pessoas em situação desfavorecida. Inicialmente vamos até os moradores de ruas levar comida e palavras de esperanças, mas ajudamos pessoas de toda a comunidade em volta de nossa área de atuação com cestas básicas remédios e outras necessidades básicas. O foco do projeto é atuar na recuperação de moradores de rua, mas graças a Deus, vários moradores das comunidades têm sido ajudados pelo projeto.

Foto: Arquivo Pessoal

Quais são as cidades em que o Ajuda Urbana atua? Toda semana, nós atuamos em Cosmópolis (SP), Limeira (SP) e Mogi Guaçu (SP), que estão próximas a Engenheiro Coelho. No entanto, o projeto Ajuda Urbana existe em praticamente toda a América Latina.

Quando acontecem as reuniões e saídas para o campo de trabalho? Quantas pessoas geralmente participam? As saídas acontecem todas as sextas-feiras, da portaria do Unasp. Antes de sairmos para os locais pré-definidos, nós nos reunimos, oramos e pedimos ao Espírito Santo que guie o nosso trabalho. Em relação à quantidade de pessoas, em Cosmópolis (SP) geralmente vai em torno de 60 pessoas. Já em Limeira (SP) e Mogi Guaçu (SP), o número reduz para 20 voluntários em cada.

Quem pode fazer parte deste grupo? Todos que têm interesse e vontade de ajudar ao próximo podem participar do projeto. Não temos distinção alguma quanto a isso.

Para você, qual foi a história de superação mais emocionante durante esses cinco anos de trabalho? A história que mais me marcou durante esses três anos que tenho participado e organizado o Ajuda é a de uma mulher que conhecemos em Cosmópolis (SP). Durante vários anos, nós íamos, levávamos lanche, mas nunca notamos nela qualquer tipo de mudança em relação à sua condição. Essa mulher teve um problema sério de saúde: ela quebrou o fêmur e, por morar na rua, teve várias complicações. Depois desse episódio, uma certa vez, ela, que era usuária de drogas, decidiu ir para a clínica (de tratamento). Chegando , os organizadores do local, ao verem seus documentos, constataram que havia um mandado de prisão contra ela e a prenderam. Na época, ela estava grávida. Ela ficou um tempo na cadeia e teve a menina enquanto estava lá. O milagre aconteceu quando a menina completou seis meses de vida e, junto dela, a mulher foi liberada da cadeia. Ainda faltava um tempo para que ela cumprisse dentro da prisão, mas não se sabe o motivo e ela foi liberta. Se não fosse assim, a menina teria sido mandada para um orfanato. Quando ela saiu na cadeia, percebeu que não tinha mais ninguém e lembrou do nosso trabalho no Ajuda Urbana. Ela, então, arrumou um telefone e entrou em contato com a gente. Nós, em um passo de fé e através da ajuda de muitas pessoas, arrumamos um lugar para que ela morasse junto da filha e se estabelecesse. Hoje, ela vive com a filha e um companheiro, e trabalha para pagar as próprias contas. Este é um dos frutos do nosso trabalho. Outra história que nos comoveu bastante foi a de um rapaz usuário de crack. Durante uma das saídas, chegamos até ele, que estava debaixo de uma ponte, um local muito escuro com o mato alto, e começamos a cantar, orar e brincar com ele. Quando estávamos indo embora, ele disse que tinha decidido que nunca mais usaria drogas e que ia voltar pra casa. Isso já faz um ano. Alguns meses atrás entrei em contato com ele, e descobri que ele realmente voltou para casa e saiu do mundo das drogas.


“O Ajuda é mais que uma ação ou um projeto. É um estilo de vida”.


Quais são as características deste trabalho que mais fazem sentido para você? Para mim, o Ajuda é mais que uma ação ou um projeto. É um estilo de vida. Não é simplesmente fazer algo porque sou cristão, mas sim, olhar para alguém e querer algo melhor para esta pessoa, pensando que poderia ser meu pai, meu irmão, minha mãe ou que poderia ser eu. É trabalhar a empatia diariamente. Já são três anos que estou nesse projeto e percebo que sozinhos nós não conseguimos fazer nada. Quanto à realidade de quem está na rua, eles chegaram ao limite do que conseguiam fazer. Se nós não formos e mostrarmos que ainda tem solução, a chance deles diminui muito. Para mim, esse trabalho significa literalmente amar pessoas sem querer nada em troca.

O que você diria àqueles que ainda não participaram das saídas do Ajuda e têm vontade de ajudar? Se você quer sentir o coração pulsar mais forte, dar sentido à vida, mudar vidas e fazer a diferença nesses dias onde parece que o mundo não tem solução, venha fazer parte do Ajuda Urbana. Nós sempre precisamos de mais pessoas para realizar este trabalho, que leva esperança e amor aos outros e é a vontade de Cristo para nossas vidas.

 

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