31/10/2019

Moradora de Engenheiro Coelho conta como superou o câncer de mama

Edilene finalizou o tratamento na segunda-feira (21) e agora é só sorrisos

Priscila Vasconcelos

No Outubro Rosa, mês de conscientização sobre prevenção e tratamento do câncer de mama, é comum receber inúmeras informações a respeito do assunto. Sobre as causas, o tratamento, os efeito colaterais, entre outros. Dentre tantos relatos dolorosos, às vezes o que precisamos é de uma brisa de ar fresco, alguma história positiva que possa dar esperança aos que lutam diariamente contra essa doença.

A brisa de ar fresco tem nome e sobrenome: Edilene Gross. Vinda de muito longe, da cidade de Tucumã no estado do Pará, a moradora de Engenheiro Coelho completou sua última sessão do tratamento contra o câncer da segunda-feira (21). E agora, é só sorrisos e leveza.

Porém, a história não começa do fim. Para chegar na fase em que está hoje, Edilene passou por situações difíceis e contou ao Portal Coelhense toda sua trajetória na luta contra o câncer de mama. Confira um pouco dessa história que termina com um final feliz:

Descoberta

Aos 20 anos de idade, Edilene percebeu a presença de um caroço em seu seio direito. Na época, foi ao médico e constatou que era somente um cisto. Só mais tarde, aos 32 anos, foi que a paraense notou o cisto crescer, e assim que percebeu, marcou uma consulta com sua ginecologista.

Já na consulta, em março de 2018, após o exame de toque, a médica percebeu que o cisto, antes inofensivo, poderia ter se tornado algo a mais, visto que este teria aumentado de tamanho e também, ficado mais rígido – características que indicariam um problema. Imediatamente, Edilene  foi encaminhada para uma mamografia.

Mamografia e biópsia feitas: o cisto agora era um nódulo, e pior, maligno. Edilene estava com câncer de mama.

O câncer de mama de Edilene não era hereditário, se desenvolveu a partir do uso de hormônios e  do estilo de vida. O anticoncepcional, que usou por muitos anos, fora uma das causas do aparecimento da doença.”Foi um choque descobrir que eu estava com essa doença. Mas segurei firme e não deixei aquilo me derrubar. As primeiras pessoas que ficaram sabendo foram minha família, meu marido, meus pais e minha sogra. Não escondi de ninguém”, conta Edilene. “A partir dali comecei a buscar alternativas para meu tratamento, pois lá em Tucumã não havia nenhum lugar que fosse especializado nisso”.

Tratamento

Edilene fez todo o tratamento no Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), localizado dentro do campus. “Tentei uma vaga para o Hospital do Câncer em Barretos, mas não consegui. Foi em Campinas, no Hospital da Unicamp, que encontrei uma forma para o meu tratamento, que foi totalmente gratuito”, conta.

“Por meio do meu irmão, que mora em Engenheiro Coelho, consegui o contato de uma senhora, mãe de um amigo dele, que teve o mesmo caso que o meu e foi tratada na Unicamp. Ela se dispôs a me ajudar. E assim começamos o processo para minha vinda ao estado de São Paulo”, explica.

‘Tratamento é muito tranquilo. Colocam cadeiras reclináveis numa sala redonda, em que o núcleo das enfermeiras fica bem no meio. Tem lanche da tarde e se chegar na hora do almoço, também oferecem a refeição. A equipe é muito carinhosa, e nos atende muito bem. Tanto os médicos, estudantes de medicina e enfermeiras”, relata.

A primeira etapa do processo foi a radioterapia, que teve início em julho de 2018. Ao todo foram 25 sessões, que duravam em média 10 minutos cada. Em seguida vieram as quimioterapias, segundo passo para o tratamento, e um processo mais agressivo. “Comecei com o que eles chamam de “químios vermelhas”, que aconteciam a cada 20 dias. Após estas, comecei a terceira etapa, das “químios brancas”. Dentre as duas, a que mais me deixaram mal foram as brancas, que me davam tontura, falta de apetite e um cansaço extremo”.

Sintomas

“As vermelhas não fizeram eu me sentir fraca, pelo contrário, eu me senti mais forte, comi mais e cheguei a engordar. Mas os cabelos, por exemplo, começaram a cair com essas sessões, após apenas 8 dias depois da primeira. Em 14 dias não tinha mais cabelo nenhum”, explica. “Já as sessões de “químios brancas” faziam eu sentir muita fraqueza, dor nas pernas, mas sem nenhum enjoo ou vômito. Eu consegui comer normalmente, com exceção de poucas comidas que não me faziam tão bem”, conta a paraense.

Edilene adotou a dieta vegetariana, que ajudaria muito no tratamento. “Resolvi parar de comer qualquer tipo de carne, branca ou vermelha, e também cortei o açúcar. Comia bastante verdura, frutas, sucos; tudo natural, tudo para ajudar no tratamento. A decisão foi minha, mas foi baseada em ver as experiências de outras pessoas, que se sentiram melhores durante esse processo de radio e químio”, explica.

Mastectomia

Durante os exames de rotina foi constatado que as células cancerígenas estavam por toda a mama, e que essas mesmas células tinham a característica de se espalhar pelo corpo, então era mais seguro que ela fizesse a cirurgia de mastectomia, nome dado à cirurgia de remoção completa da mama, que consistem em um dos tratamentos cirúrgicos para o câncer de mama. No dia 7 de março de 2019, Edilene sofreu o procedimento de mastectomia, ela teve suas duas mamas removidas “O médico achou melhor que eu fizesse o procedimento, para ter certeza de que as células não iriam se espalhar, explica.

Recuperação

Durante todo o tratamento Edilene teve ajuda de sua família, integralmente. Ela pôde contar com o apoio de seu irmão, seu tio, seu sobrinho e alguns amigos que fez durante a estadia. Mas passou vários meses longe de seus filhos e de seu marido. O esposo ficou cerca de 7 meses em Engenheiro Coelho junto a ela, porém, precisou voltar para cuidar dos filhos e trabalhar para pagar as despesas.

“Eu sentia muita falta da minha família, mas sabia que isso era necessário. Vi meus filhos somente durante as férias e meu marido por alguns meses. Mas sempre pude contar com o apoio da minha família aqui de Engenheiro Coelho. Todos me auxiliavam no que fosse preciso. Nunca me faltou nada”, relata.

A última etapa de todo o processo para a cura do câncer, foram as vacinas preventivas, chamadas Erceptim. Depois de 16 destas vacinas, na segunda-feira, 21 de outubro, Edilene tomou a última. E finalmente terminou o tratamento.

Libertação

Edilene nunca se deixou abalar, durante todo o processo teve contato com pessoas de todas as idades. Mulheres mais velhas e mais novas, que davam a ela a força que precisava para continuar. As experiências trocadas fortaleceram a atitude positiva que a paraense teve durante mais de um ano de tratamento. Também continuou trabalhando, confeccionando enfeites para unhas. Algo que a distraía e ao mesmo tempo, possibilitava sua renda mensal.

“O processo é longo e cansativo. Eu via mulheres de todas as idades, e em situações muito piores do que a minha. Essa convivência me trouxe força. Eu as via sorrindo e levando a situação com naturalidade. Aquilo me motivou a não entrar em depressão, não me deixei cair. Continuei fazendo minhas atividades normalmente, não parei nada. O pessoal aqui de casa até me repreendia às vezes, pois eu pegava peso, andava a pé pra tudo quanto é lado. Mantive minha rotina”, conta rindo.

Depois de mais de um ano e meio, o processo teve seu fim. Edilene finalmente teve alta e agora, aguarda a reconstrução da mama, que será feita futuramente. A paraense esta livre. “Estou muito feliz que tudo tenha acabado. Graças a Deus, recebi muito amor de todos que cuidaram de mim. No SUS, no Hospital da Unicamp, em casa com minha família. Eu só tenho a agradecer”.

Edilene ainda deixa uma mensagem de esperança. “O que eu posso dizer para alguém que tenha acabado de descobrir o câncer, ou que esteja em tratamento, é para ter fé e esperança. Em Deus acima de tudo, mas também, em si mesma. A gente é muito forte e consegue resistir sim a esses obstáculos da vida. A força vem de dentro e ela pode te ajudar a superar tudo. Não percam a esperança e não se deixem abalar. Tem muito mais da vida pela frente, muito mais”, finaliza Edilene.

Outubro Rosa

Movimento internacional de conscientização para o controle do câncer de mama, o Outubro Rosa foi criado no início da década de 1990 pela Fundação Susan G. Komen for the Cure. A data é celebrada anualmente, com o objetivo de compartilhar informações e promover a conscientização sobre a doença; proporcionar maior acesso aos serviços de diagnóstico e de tratamento e contribuir para a redução da mortalidade. O INCA — que participa do movimento desde 2010 — promove eventos técnicos, debates e apresentações sobre o tema, assim como produz materiais e outros recursos educativos para disseminar informações sobre fatores protetores e detecção precoce do câncer de mama.

Câncer de Mama

O câncer de mama é uma doença causada pela multiplicação desordenada de células da mama. Esse processo gera células anormais que se multiplicam, formando um tumor.

Há vários tipos de câncer de mama. Por isso, a doença pode evoluir de diferentes formas. Alguns tipos têm desenvolvimento rápido, enquanto outros crescem mais lentamente. Esses comportamentos distintos se devem a característica próprias de cada tumor.

O câncer de mama é o tipo da doença mais comum entre as mulheres no mundo e no Brasil, depois do de pele não melanoma, correspondendo a cerca de 25% dos casos novos a cada ano. No Brasil, esse percentual é de 29%.

Existe tratamento para câncer de mama, e o Ministério da Saúde oferece atendimento por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).

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