06/11/2024

Moradores rurais de Engenheiro Coelho relatam dificuldades com transporte para estudantes

Pais afirmam que alunos acumulam faltas às aulas e que problema acontece desde o início do ano

Ponte da região do Sítio Mato Dentro, zona rural de Engenheiro Coelho | Felipe Pessoa/Portal On

Felipe Pessoa

Pais de estudantes de Engenheiro Coelho que moram na área rural da cidade estão relatando dificuldades em utilizar os serviços de transporte público oferecidos a quem reside na localidade. Isso porque, segundo eles, muitas vezes os ônibus não passam para buscar os estudantes, e, quando passam, quebram ou apresentam falhas. Os pais afirmam que seus filhos já acumulam diversas faltas às aulas.

Segundo Luciana, moradora do complexo residencial rural Sítio Mato Dentro e mãe de um menino e uma menina de 6 e 14 anos, respectivamente, já faz mais de 15 dias que as falhas ocorrem. “Não tem van nem ônibus para buscar os alunos para estudar e eles alegam que os ônibus estão quebrados, que as vans estão quebradas… Quando vêm (buscá-los) de carro, vem duas vezes e o carro quebra. O carro é pequeno, apertado para todos os alunos”, queixou-se Luciana.

Estudantes que vivem na zona rural da cidade dependem de transporte público para conseguir ir às aulas | Felipe Pessoa/Portal On

“Quando vem um ônibus, uma van, quebra no meio do caminho. A criança tem que ficar parada dentro do ônibus, esperando outro vir socorrer”, denunciou. Ela relatou que os estudantes chegaram a ficar por mais de uma semana inteira sem ir à aula devido à falta de transporte. “Estão, todos eles, perdendo aula, com risco de, ao chegar no fim do ano, repetir (a série escolar) por causa de falta, porque não conseguem ir para a escola. O transporte não vem e a gente não tem como levar”, explicou.

Ponte que dá acesso à onde mora Luciana, na região do Sítio Mato Dentro | Felipe Pessoa/Portal On

Ela afirma que as mães, com frequência, acionam os órgãos públicos municipais e os questionam sobre a situação, ao que recebem como respostas afirmações de que o problema será resolvido. Segundo ela, no entanto, a solução não vem. “É sempre a mesma desculpa. Estamos arrumando, vai arrumar, vou fazer, vou isso, vou aquilo… Mas não faz! Chega no dia de vir buscar, não tem o ônibus”, contrapôs.

Luciana não é a única mãe a relatar dificuldades com a linha de transporte rural. Daliane, também moradora da área rural de Engenheiro Coelho e mãe de uma estudante do primeiro ano do pré-escolar, afirma que “essa linha está, desde o começo do ano, essa bagunça”. A mulher ainda relata: “Estava vindo uma perua velha em que não cabiam os alunos, com o pneu careca”.

Moradores afirmam sofrer com dificuldades no transporte desde o início do ano – Felipe Pessoa/Portal On

“Ela (filha de Daliane) já não está indo para a escola desde quinta-feira passada (24)”, apontou. “Aí, não vem buscar, e, se a gente não manda para a escola, o conselho tutelar vem atrás. Aí, você vai no conselho tutelar e o conselho tutelar não faz nada”, resumiu.

“As crianças ficam sem estudar, a gente precisa trabalhar e tem que trazer junto, porque a gente mora no sítio. Quem que vai cuidar (das crianças quando faltam à aula)?”, questionou Daliane. “A gente não tem apoio, a gente não tem ajuda. A gente não tem como fazer nada aqui”, concluiu.

A reportagem procurou a Prefeitura de Engenheiro Coelho sobre a situação, mas não recebeu resposta até a publicação da matéria.

Estudantes que vivem na zona rural da cidade dependem de transporte público para conseguir ir às aulas | Felipe Pessoa/Portal On

É comum que moradores das seções rurais das cidades tenham dificuldades no acesso a direitos públicos. Uma pesquisa sobre Índice de Perda de Qualidade de Vida (IPQV), do IBGE, feita entre os anos de 2017 e 2018 e publicada em 2021, revelou que a perda na qualidade de vida de moradores das áreas rurais do Brasil é quase o dobro de quem vive nas áreas urbanas.

Dados fornecidos pela Prefeitura de Engenheiro Coelho sobre habitantes revela quase 27% como sendo o número de moradores que vivem na área rural da cidade | Felipe Pessoa/Portal On

Na pesquisa, o índice brasileiro foi de 0,158. Na área urbana, a marca era de 0,143, enquanto na rural foi de 0,246. Os números revelam que na área rural, onde viviam cerca de 15% da população do país, a perda era 1,7 vez maior do que na área urbana.

O índice leva em conta questões de moradia, acesso aos serviços de utilidade pública, saúde e alimentação, educação, acesso a serviços financeiros e padrão de vida, além de transporte e lazer. O indicador vai de 0 a 1; quanto mais próximo o índice estiver de zero, melhor a qualidade de vida.

Dados disponíveis no site da Prefeitura de Engenheiro Coelho, que não incluem data, apontam que, enquanto o número de moradores da área urbana da cidade é de 11.498, para rurais o registro é de 4.223. Nos dados fornecidos, o número de moradores rurais representa quase 27% do total.

Estudantes que vivem na zona rural da cidade dependem de transporte público para conseguir ir às aulas | Felipe Pessoa/Portal On

Dados sobre a educação da cidade podem ajudar a entender a situação do setor. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) para os anos iniciais do ensino fundamental da rede pública de Engenheiro Coelho registrou, em 2023, a marca de 5,7, numa escala de 0 a 10. Para os finais do ensino fundamental, o número registrado foi de 5,2.

Em Engenheiro Coelho, além da creche CEI Pr. José Miranda Rocha, que fica no bairro Universitários, não há escolas na zona rural da cidade.

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