10/12/2017

Músico de Engenheiro Coelho conta como começou a carreira

Marcel Freire é cantor, produtor musical e desenvolve projetos no município há mais de 15 anos

Nathália Lima 

Uma história de vida mesclada à música e à arte: esta é a trajetória do cantor e produtor musical Marcel Freire, morador de Engenheiro Coelho. Filho de pais musicistas, teve contato com a música desde cedo, o que o fez definir, ainda pequeno, que seria músico.

Além de interpretar canções, Freire faz parte de um grupo seleto de músicos que realiza e produz atividades musicais no Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), campus Engenheiro Coelho. Natural de Santos (SP), Marcel Freire descobriu cedo seu talento musical. Ainda quando criança, encontrou dentro de casa suas primeiras referências.

Durante parte de sua infância e adolescência, Freire morou fora do país, momento em que o cantor teve contato com diferentes culturas. Na entrevista deste domingo (10), você conhecerá um pouco da história deste músico que viajou o mundo e, por coincidência ou força do destino, veio parar em terras coelhenses.

De onde surgiu a música na sua vida? Bom, minha família é praticamente inteira musical. Na infância, minha mãe e meus tios eram obrigados a fazer aulas de piano. Um deles continuou e é reconhecido no meio gospel. Meu pai também teve contato muito cedo com a música e foi o primeiro pianista a me acompanhar para cantar. Essa herança musical sempre foi muito forte dos dois lados da família. A minha primeira lembrança de cantar um solo na igreja foi aos 3 ou 4 anos de idade.

Você teve alguma experiência musical além do canto? Sim. Quando eu tinha uns 10 anos, minha família se mudou para os Estados Unidos e lá eu comecei a fazer aula de Flauta Transversal. Até então, nunca tinha tido aula de qualquer tipo de instrumento e teoria, por isso não tinha muita noção de partitura. Meu pai tentou me ensinar o valor das notas, mas aprendi mais quando fiz essas aulas de música. Além disso, cantei em dois corais nessa época.

Em que momento você descobriu que queria seguir a carreira da música? Desde a época em que estava nos Estados Unidos, e tinha minhas experiências musicais por lá, eu já sabia que queria fazer isso para o resto da minha vida. Eu passei um período meio longo sem cantar, que foi durante a puberdade. A voz muda e a gente fica naquela insegurança. Foi um momento bastante engraçado, porque eu terminei o ensino fundamental nos Estados Unidos, fiquei um semestre aqui no Brasil, passei um ano na África do Sul e depois minha família inteira voltou para os Estados Unidos, exatamente na mesma cidade em que morávamos antes. Isso foi bem na época que eu parei de cantar, só que todo mundo sabia que eu cantava lá. Então eu fiquei um tempo recusando convites porque eu não estava muito seguro. Um dia, depois de alguns meses, eu aceitei cantar numa capela da escola onde eu estudava. Nesse dia, as pessoas aplaudiram de pé, aí eu pensei “bom, beleza, acho que já posso voltar a cantar”. No ensino médio, eu não cantei em nenhum coral, só cantava solos e no louvor da igreja e continuava tocando flauta na banda. Já na faculdade, o regente do coro da Andrews University me chamou para cantar. Eu cantei um ano com eles, voltei para o Brasil, e foi nesse momento que decidi seguir realmente na carreira da música.

Você morou em vários lugares diferentes. Qual foi o impacto disso na sua vida? Até eu vir para o Unasp, eu não tinha raízes em lugar nenhum. Até os 10 anos de idade, eu sempre morei no Brasil. Mas ainda nesse meio tempo, minha família não ficava mais de três anos e meio em um mesmo lugar. Para mim, a partida sempre foi sofrida, mas por causa das pessoas, não dos lugares. Eu só comecei a estabelecer raízes no Unasp, quando cheguei aqui há mais de 15 anos. A bagagem que eu tive antes de chegar aqui, com diversas culturas, também agregou muito à minha vida. Meus melhores amigos eram da Indonésia, da Libéria, da Índia e, querendo ou não, ao ir para a casa dessas pessoas, eu encontrava um mundo completamente novo.

Depois de tantas idas e vindas, como você veio parar em Engenheiro Coelho? Eu não tinha pretensão nenhuma de voltar para o Brasil. Minha vida era nos Estados Unidos, eu já tinha pensado e idealizado uma carreira em comunicação por lá. No entanto, alguns pontos foram cruciais para que eu tomasse a decisão de voltar. Tivemos fatores familiares que corroboraram isso. Eu também não tinha dinheiro suficiente para me manter sozinho na época, e tomei a decisão de vir para cá. No final, foi a melhor decisão que eu poderia ter tomado, porque foi aqui que eu me encontrei, tanto como pessoa, quanto como profissional.

Qual é o papel das oportunidades na sua vida? Aqui no Unasp, as oportunidades que eu recebi foram importantes para uma definição pessoal minha. Como cantor, essas oportunidades também são importantes porque me fizeram um pouco mais conhecido no meio musical gospel, e isso gerar um reconhecimento do meu trabalho. Eu nunca tive a pretensão de ser famoso, inclusive não me considero uma pessoa famosa. Mas esse reconhecimento, na minha linha de trabalho, é importante, porque é assim que as pessoas terão acesso ao que eu faço. Crescer profissionalmente aqui dentro da Universidade também foi bastante importante para mim. Eu nunca imaginei que, depois de formado, eu estaria trabalhando aqui e ajudando a desenvolver vários projetos, fazendo parte deles. O reconhecimento do meu trabalho perante a direção da escola também é bastante importante.


“É importante ter coragem de ‘dar a cara a tapa’, porque para um músico desenvolver é preciso se expor”.


Como foi gravar seu primeiro CD solo? Foi a realização de um sonho pessoal. Eu tenho dois primos que são cantores que nunca tiveram essa pretensão de gravar CD e ter uma carreira musical. Em contrapartida, eu sempre soube que o que eu queria fazer era cantar. O processo de gravação, produção e lançamento do meu CD demorou um pouco para ser finalizado. Eu comecei a organizar esse projeto entre 2009 e 2010. E como foi um projeto independente, pago pela minha família, eu não tinha essa pressão de prazo. Então consegui fazer o trabalho do jeito que eu queria, no tempo em que precisava, encaixando nas minhas brechas de agenda e compromisso de trabalho. Foi um processo longo, principalmente por causa da definição de como seria a distribuição do material. Esse é o desafio do cantor independente. Nesse ínterim, a gravadora Unaspress começou a engatinhar e eu vi nela a oportunidade de lançar meu CD através da marca. Fez muito sentido, porque eu sou da casa e não fazia sentido eu procurar algum outro selo, já que esse estava começando aqui mesmo e eu sou uma das pessoas que ajuda na administração.

Como você enxerga o mercado fonográfico gospel dentro da instituição Adventista? No meio evangélico, de modo geral, existe um reconhecimento do cantor como profissional. Na igreja Adventista, isso está um pouco atrasado. No entanto, tem uma cultura que ainda está sendo criada de que as pessoas estão começando a enxergar que os cantores dependem disso para se sustentar. O músico, em um modo geral, é um ser idealista. Ele investe no trabalho porque acredita, ainda mais no mundo evangélico, que temos uma mensagem muito específica para passar. Nós encaramos isso muito como missão, mas é importante pensar que, além da missão, foram investidos recursos financeiros, horas de trabalho, e é preciso pagar as coisas do trabalho e do dia a dia (água, luz…). Eu acredito que, aos poucos, essa cultura está sendo disseminada, e esperamos que seja uma tendência.

Quais são seus projetos para 2018? Bom, nós temos algumas frentes de trabalho em processo. Uma delas é a edição e lançamento do DVD “Pra cima, Brasil” do Coral Academia da Voz, que reúne canções do músico e compositor João Alexandre, bastante conhecido no meio gospel, que será lançado no ano que vem. Outro projeto que tem me empolgado bastante é a gravação do DVD do Novo Tom, um grupo do Unasp do qual faço parte há mais de 13 anos, e vai abranger toda a carreira de quase 20 anos que o grupo tem. O interessante desse projeto é que vai utilizar a história de várias pessoas de todo o país que têm testemunho de como eles foram impactados pela nossa música. Esse vai ser o fio condutor do DVD inteiro. Tem histórias bem incríveis, e eu estou bem ansioso para ver o desenrolar disso. Tem outros muitos projetos que ainda estão no papel. Eu quero gravar um segundo trabalho solo, mas ainda estou pensando em como viabilizá-lo. O importante é estar bem ativo e não estagnar nunca.

Quais são os conselhos que você tem para dar àqueles que estão começando na música? É importante ter coragem de “dar a cara a tapa”, porque para um músico desenvolver é preciso se expor. Então precisa “virar uma chave” e aproveitar as oportunidades. Depois que defini essa carreira para minha vida, eu sempre disse sim para os convites de cantar. Aceitando esses convites, você vai amadurecendo. Eu li uma entrevista com um grupo americano que eu admiro muito e eles disseram o seguinte: você tem que florescer onde você está plantado. Aproveitar essas oportunidade é parte muito importante principalmente no início. E se não der certo, “sacode a poeira” e segue adiante. Você não pode desanimar se a voz falha ou você desafia. São coisas que acontecem como todo mundo. A voz é um instrumento que depende 100% da nossa saúde, e nessa realidade, é preciso aceitar que não somos perfeitos. Em relação aos cuidados com a voz, descanso, muita água e cuidado no falar alto são fundamentais. Para aqueles que querem seguir neste caminho, é muito importante compreender que a voz é seu instrumento de trabalho e você precisa cuidar dela mantendo hábitos saudáveis.

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