05/08/2018

“Precisamos sorrir para nós mesmos”, afirma palhaço de Engenheiro Coelho

Vitor Bartolomeu da Costa tem uma vida inteira dedicada ao circo na pele do Palhaço Pulga

Michael Harteman

Deu para ver Vitor Bartolomeu da Costa de longe. Ele estava gesticulando com as mãos para o carro da reportagem. “O senhor é o Palhaço Pulga?”, pergunto. A resposta vem de imediato: “Sou eu mesmo”. Quando se percebe, já se está sentado na mureta do quintal, conversando com o homem que se orgulha em ser chamado de palhaço. A conversa rapidamente mostra que o homem é cheio de experiência, amor ao próximo e muita vitalidade. Embora a certidão de nascimento diga que ele tem 62 anos, os olhos mostram uma alma de menino.

Com uma vida dedicada as palhaçadas, Vitor teve uma infância nada engraçada. “Não conheci meu pai. Para ajudar a cuidar dos meus irmãos comecei a vender maçã do amor no circo quando tinha oito anos”, relembra Vitor. As memórias são relacionadas a cidade de São Sebastião da Grama (SP), onde Vitor nasceu e passou a infância. De tanto frequentar as lonas, o jovem Vitor passou a entender com detalhes o funcionamento de um circo. “Fui crescendo e aprendendo tudo, tanto que quando era jovem me chamavam para fazer algumas apresentações como palhaço”, rememora.

Quando completou 18 anos, Vitor tinha a alma do circo dentro dele. Era o que ele amava fazer. Tanto é fato, que maioridade naturalmente o fez um palhaço de circo profissional. Nascia ali o Palhaço Pulga. “Era uma época bem diferente de hoje, o circo não registrava seus funcionários”, explica. Se não tinha registro, tinha paixão. Se lhe faltava estabilidade, sobrava-lhe ternura. “É um dom que a gente descobre que têm, não fiz curso, só tenho a quarta série, aprendi a ser palhaço na prática”, comenta.

Vitor levou o palhaço Pulga para diversos circos pelo estado de São Paulo. Ficava um pouco em cada um. Nas épocas em que o circo estava em seu auge, o palhaço alegrou corações de milhares de adultos e crianças. “Não há nada mais gostoso para um palhaço do que tirar um sorriso e uma risada de uma pessoa”. Agora, quem pensa que a tarefa é fácil, se engana. “Você facilmente irrita alguém, é até fácil fazer a pessoa chorar, mas arrancar um sorriso nos dias de hoje é muito difícil, tem que rebolar viu”, conta, aos risos, Vitor.

Enquanto conversava, me lembrei daquela máxima que diz que o palhaço é triste. Em algum momento eu iria tentar falar sobre isso. Não precisou, ele mesmo confessou. “Agora, deixa eu te contar uma coisa, o palhaço, na verdade é triste”, comentou. Devolvi com uma pergunta: Por quê, Vitor? “Enquanto palhaço, estou no mundo da alegria, saio das dificuldades do dia a dia e conto com a contemplação das pessoas, mas assim que tiro a maquiagem, me sinto só, tendo que voltar para realidade”, admite.

Atualmente, Vitor não trabalha mais em circos. Ele conta que o ramo está passando por um momento difícil. “É triste, já vi muitos e muitos circos morrerem, é algo que me deixa muito triste, hoje não há nenhum estímulo para a arte circense, sem contar que a população está passando por uma crise e não consegue pagar o ingresso”, afirma Vitor, que deixou o circo há cerca de 15 anos. “Atualmente eu sou contratado pra fazer eventos, já fiz muita inauguração de loja em cidades vizinhas, além disso já participei de diversas ações do poder público”, explica.

Vitor Bartolomeu da Costa, o Palhaço Pulga, é história viva. É a personificação do altruísmo. Criança, ajudou no sustento da família. Adulto, ajudou a alegrar vidas de crianças. Hoje, leva com ele, dentro do peito, o palhaço que encanta, a criança que sonha e a experiência que ensina. “Precisamos rir mais, a sociedade está muito sofrida, é difícil sorrir, mas precisamos tentar sorrir pra nós mesmos”, encerra Vitor.

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