26/10/2017

Professor de Engenheiro Coelho participa de pesquisa sobre o desastre em Mariana

Parte do município mineiro foi engolida pela “lama” da barragem, ceifando a vida de 19 pessoas

Da redação

Mariana (MG), 5 de novembro de 2015. O dia havia amanhecido tranquilo, preguiçoso como todos os anteriores. A cidade, que ficava ao lado de uma barragem, nunca havia sentido medo de ser engolida por lama. Se perguntassem, ninguém diria que, naquele mesmo dia, uma tragédia aconteceria. A barragem de Fundão se rompeu sobre Bento Rodrigues, subdistrito do município mineiro. No entanto, o que parecia ser uma tragédia “natural”, se mostrou poço de problemas e mistérios. Naquele dia, não foi somente a lama de mineração que se esparramou.

A tragédia lavou também relações, memórias e vidas antes presentes no caminho da devastação. O acontecimento de 5 de novembro de 2015, que causou 19 mortes e danos ambientais imensuráveis, foi o marco principal de um episódio iniciado anos antes e não encerrado até hoje. Das rachaduras arrebentadas de Fundão, pertencente à mineradora Samarco, controlada pela Vale e pela multinacional BHP Billiton, brotaram inúmeros questionamentos sobre os setores público e privado, as leis, as mídias e as contradições humanas.

Em 2016, o desastre se tornou tema de discussão na disciplina Linguagem: Jornalismo, Ciência e Tecnologia, ministrada pela professora e jornalista Dra. Graça Caldas no mestrado em Divulgação Científica e Cultural, do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Unicamp.

A ideia inicial era construir coletivamente (entre 35 alunos) um dossiê com diferentes perspectivas sobre a tragédia que impactou a bacia do rio Doce e chegou ao oceano Atlântico. Os resultados do trabalho estão no livro digital (ou impresso sob demanda) Vozes e silenciamentos em Mariana: crime ou desastre ambiental?, amplamente ilustrado, com edição final de Dra. Graça Caldas e Adriana Menezes, produção gráfica de Fabiana Grassano e edição de fotografia de Camila Brunelli.

Dentre os alunos participantes está Thiago Basílio, mestre em Divulgação Científica e Cultural pelo Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Unicamp e professor universitário de Engenheiro Coelho. Para ele, a participação no trabalho foi “extremamente agregadora”. “Foram inúmeras descobertas sobre as diferentes lacunas que o contexto da tragédia apresenta. O mais assustador é observar que esses problemas se repetem frequentemente no contexto de exploração mineral no Brasil”, explica Basílio, que é professor do curso de Jornalismo do Centro Universitáio Adventista de São Paulo, campus Engenheiro Coelho.

“Tragédias do tipo podem acontecer a qualquer momento e em diversas regiões, pois os parâmetros ambientais e de segurança parecem não ser prioritários às empresas exploradoras e ao governo que se omite na fiscalização”, acrescenta o jornalista. Para Thiago, o caso de Mariana serviu para “arreganhar a sujeira do setor”. No entanto, ainda assim, os resultados práticos da tragédia se resumem a poucos esclarecimentos e “vidas ceifadas em diferentes níveis. Esse é real o lamaçal herdado ao país da tragédia projetada ao mundo”. O livro também mostra diversas nuances dessa história inadmissível que, infelizmente, pode se repetir em diferentes lugares do país.

No projeto em que o professor universitário coelhense participou, os mais de 30 alunos produziram entrevistas, reportagens, análises, narrativas literárias e fotografias que resgatam o desastre. Ao todo, a obra conta com sete capítulos: Meio Ambiente, Política e Economia: uma difícil equação; A vida antes da tragédia; Da água para a lama; Viagem ao Epicentro; O Desastre Ambiental; Vozes e Visibilidade; e Memória e Esquecimento.

“Trata-se de um trabalho de divulgação científica. Nossa expectativa é chamar a atenção da sociedade como um todo e de políticos, autoridades em geral para evitar que este problema volte a acontecer”, explica Dra. Graça, coordenadora do projeto. Ela destaca que o livro é uma obra aberta, já que muitos desdobramentos da catástrofe ainda não foram resolvidos ou sequer mensurados.

Lançamento

Como se trata de uma produção acadêmica, com uso de fotos cedidas pela Associação de Fotógrafos Cinematográficos da Minas Gearais (Arfoc), o livro Vozes e silenciamentos em Mariana: crime ou desastre ambiental? será disponibilizado apenas de maneira online no site do Labjor, a partir do dia 30 de novembro, em pdf.

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