15/10/2017

Professora de Engenheiro Coelho compartilha desafios e conquistas da profissão

Dra. Lanny Soares lecionou para os ensinos básico, médio e, atualmente, trabalha como professora de ensino superior

Nathália Lima

Dia do professor. Do educador, do conselheiro, do tutor, do ensinador. Hoje é dia de homenagear aqueles que formam as bases principais para todas as outras profissões. Eles oferecem conhecimento, compartilham tempo e, mesmo sem salário e valorização adequados, suportam o impossível apenas para garantir a todos os direito à educação.

Em homenagem à esses que nos auxiliaram desde cedo na longa caminhada da educação, o Portal Coelhense conversou com uma professora que passou grande parte de sua vida ensinando. Dra. Lanny Soares é biomédica, se especializou na área, já trabalhou como funcionária do Governo na saúde pública, e dedica seu tempo e conhecimento à educação há mais de 20 anos.

Para especializar-se como doutora, foram 10 anos de estudo, conciliados com preparação de aulas, correção de provas, duas gravidez e muita correria. Atualmente, Lanny leciona no Centro Universitário Adventista de São Paulo, campus Engenheiro Coelho (Unasp-EC), e conta, nesta entrevista, sobre os desafios de sua profissão.

Como foi seu primeiro envolvimento com a sala de aula? Minha história com a sala de aula começou quando eu, após engravidar, decidi largar meu emprego como funcionária pública. Eu queria dedicar meu tempo para a maternidade, e tive de escolher o que faria, optando assim por me desligar do trabalho na saúde pública. Essa pausa demorou pouco tempo, pois fui chamada para trabalhar como professora de ensino médio, ainda quando amamentava, e aceitei a proposta. Desde então, minhas experiências têm sido dentro de sala de aula e como pesquisadora. Nessa realidade, eu me encontrei como professora. Sempre gostei bastante de dar aula, porque é bastante dinâmico. Você ensina, você aprende e, para curso superior, eu acho melhor ainda.

Como você enxerga a educação do brasileiro quanto à valorização do educador? Diferentemente de outras profissões, nós estamos falando de profissionais que formam profissionais. Ou seja, o educador deveria, entre tantos outros ramos profissionais, ser um dos mais valorizados. A gente sabe que tem culturas que valorizam e remuneram de maneira justa seus educadores. Na Alemanha, recentemente houve uma discussão a respeito de alguns profissionais que queriam aumentar seus salários. Nessa discussão, os educadores alemães entraram na jogada e a primeira-ministra do país disse a eles que não podiam reclamar, já que ganham mais dinheiro que quaisquer políticos do país. Aqui no Brasil, isso é piada.

No Brasil, a educação e o educador são pouco valorizados, principalmente na área financeira. Como professora universitária, você sente algum impacto? A realidade do professor universitário é bastante diferente da realidade do professor de ensino básico e médio. Principalmente quando se possui especialização como um doutorado. Nós temos um tempo separado para preparação de aulas, não damos aula o tempo todo, então realmente não podemos reclamar. Na minha experiência, quando dei aula para os pequenos, eu estava em uma fase bastante única da minha vida, e trabalhar como professora foi uma escolha naquele momento.

Qual sua opinião a respeito desta realidade no município e no país? Eu observo professores de ensino fundamental e médio que desenvolvem um trabalho enorme todos os dias, com correção de atividades, preparo de aulas, aquela atenção especial para cada aluno. Eu acho que é quase que desumano o tanto de tempo e esforço investidos por esses profissionais, principalmente quando não há reconhecimento deste trabalho tão árduo.

Na dinâmica de escola e maternidade, muitas mães acabam se vendo na situação de dar aulas para os próprios filhos. Como foi, para você, passar por essa situação? Então, essa foi uma experiência bastante interessante, que aconteceu com meu filho mais velho no ensino básico e se repetiu na faculdade. A turma acaba se tornando diferenciada, porque teu filho está lá no meio. Mas por outro lado, é preciso trabalhar naturalmente para não dar nenhuma diferença de tratamento entre os alunos. Acaba que fica mais interessante ainda, porque você se motiva a fazer atividades ainda mais legais.

Quais são os principais desafios que a educação demanda hoje? O profissional da educação, diferentemente de outras profissões, tem uma demanda de trabalho um tanto quanto cheia. O professor frequentemente leva trabalho para casa, precisa se reinventar, organizar aulas para todos os dias da semana e ainda tornar a aula interessante para os alunos. Esses são desafios complexos que todo professor precisa superar no dia a dia, pois a função do professor não termina na sala de aula. Outro desafio grande que o educador enfrenta é o “prender a atenção” dos alunos no conteúdo. Quando estamos lidando com uma sociedade “do espetáculo”, o aluno tende a pensar que na sala de aula também deve ser assim. Então fica para o professor a grande responsabilidade de ter que atrair a atenção de crianças desconcentradas, desmotivadas, muito ligadas à tecnologia e com dificuldade de comunicação. Por isso, eu creio que o professor é desafiado cada dia mais para passar o conhecimento de formas que prendam a atenção dos alunos.

Com sua experiência em sala de aula e docência, o que você diria para um professor que está trabalhando no sistema educacional brasileiro e não se sente valorizado? Bom, em todas as profissões existe uma parcela de idealismo. Nós, como educadores, temos que ter certeza que podemos transformar e mudar a sociedade, pois oferecemos um trabalho totalmente de resultado. É sabia que se muda a cultura de um povo com a educação. É claro que não é algo que acontece de um dia para o outro. Levam anos, mas a educação é o único meio de transformar de verdade a sociedade. Por isso, eu acredito que o professor precisa ter uma parcela ainda maior de idealismo. Se o educador tiver isso em mente e souber o tipo de contribuição importante que pode trazer à sociedade, a compreensão do trabalho se transforma.


“Primeiro, nós temos que nos valorizar e oferecer uma educação de qualidade, para depois conquistarmos cada vez mais. Eu acredito que já melhorou bastante, mas ainda podemos fazer muito”  


O que você acha que deveria ser feito para que a sociedade compreendesse o profissional de educação de maneira coerente com a relevância de seu trabalho? Eu acredito que um dos principais meios para mudarmos a realidade do professor no Brasil é através a qualificação profissional. Assim, teríamos um bom desempenho e, a partir dessa boa qualificação, poderíamos buscar melhor reconhecimento. O pensamento de “já que eu não sou valorizado, não vou investir” não consegue trazer melhorias para ninguém. Eu acho que, se nós mudarmos isso, nós conseguimos transformar o ciclo e lutar de alguma maneira pelo que está faltando, reverter esse quadro e colocar a educação no lugar em que deve ser colocada. Primeiro, nós temos que nos valorizar e oferecer uma educação de qualidade, para depois conquistarmos cada vez mais. Eu acredito que já melhorou bastante, mas ainda podemos fazer muito.

Os pais e a escola: qual é a importância desse relacionamento? A educação deve ser uma “parceria” entre casa e escola. O desequilíbrio no relacionamento entre pais, responsáveis e professores é mais aparente nos ensinos básico e médio. Às vezes, o que acontece é que os pais imputam nos professores uma responsabilidade maior do que cabe na profissão. Invés de trabalhar em parceria, eles colocam os cargos inteiros da educação nos ombros dos professores, e isso torna o profissional bastante sobrecarregado. Há casos em que os professores se tornam os “vilões” da história por falta de limites, que deviam ter sido colocados antes mesmo das crianças chegarem à idade escolar. Para que essa realidade mude, a sociedade como um todo precisa valorizar o professor, a começar dos pais.

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