21/01/2018

Psicóloga de Engenheiro Coelho quebra tabus sobre saúde mental

JANEIRO BRANCO: De forma simples e direta, Adriana Marques dos Reis desconstrói possíveis preconceitos

Da redação

Formada há dez anos, a psicóloga, administradora e neuropedagoga Adriana Marques dos Reis tem vasta experiência na área de saúde mental. A paulistana recém chegada dos Estados Unidos quebrou tabus durante entrevista sobre a campanha Janeiro Branco e, por isso, de forma simples e direta, Adriana desconstruiu alguns preconceitos.

Confira entrevista na íntegra:

Como nasceu a campanha ‘Janeiro Branco’? Desde o ano 2000, a Organização Mundial de Saúde (OMS) vem nos alertando quanto ao alto índice de crescimento quanto ao as taxas de suicídio, depressão e ansiedade em todo o mundo.  Sem dúvida, temos visto nos telejornais e em todas as mídias, notícias de pessoas que estão tirando suas vidas ou com o grande consumo de medicações, porque não conseguem sentir se felizes consigo mesmas e buscam a “tal felicidade” ou a fuga da realidade de diversas formas. A campanha veio através da inspiração da Campanha Outubro Rosa em chamar a atenção para a questão da prevenção ao Câncer de Mama. Nosso objetivo com a Campanha Janeiro Branco é de chamar a atenção da sociedade para o cuidado da saúde mental. Temos que desmistificar e quebrar preconceitos, pois ir ao psicólogo deveria ser algo tão natural quanto à busca de qualquer outro profissional de saúde.

O mês de Janeiro é uma época de renovação de votos e as pessoas estão mais abertas às transformações. Isso tem alguma relação com o ‘Janeiro’ da campanha? Quando vai chegando o final do ano, normalmente começamos a fazer planos para o próximo ano e, também, um balanço daqueles objetivos que conseguimos atingir e aqueles que por um motivo ou outro não chegamos ao nosso objetivo. Também fazemos essa relação com as segundas feiras! Começamos a academia na segunda, começamos o regime na segunda… O primeiro, o início, nos leva a proposta de deixar o passado e temos uma relação com o começar de novo. Quando chega janeiro, temos uma lista enorme em nossas mãos, uma agenda novinha como uma página branca, nos possibilitando as mais diversas renovações em busca de uma vida mais feliz para si mesmo. A cor branca nos possibilita qualquer ideia, qualquer criação, qualquer ousadia, qualquer realização. Além disso, a cor branca é a somatória de todas as outras cores, ou, como podemos imaginar, a somatória de todos os projetos e todas as experiências a partir das quais todo sujeito pode partir para escrever a sua própria história.

O que é feito em termos de ações durante o “Janeiro Branco”? Como nós psicólogos que trabalhamos com as emoções, sentimento e pensamentos, cuidamos da saúde mental, tanto na prevenção de problemas como na busca das soluções, pode nos dar a impressão que só nós estamos engajados nesta luta. Eu creio que, o bem estar envolve mais profissionais, porque somos aquilo que pensamos, comemos e fazemos. Desta forma, psiquiatras, médicos, enfermeiros, nutricionistas, empresários ampliam para muito além dos consultórios e ambientes, tradicionalmente, dedicados à saúde das pessoas. Falar e cuidar da saúde mental cabe a qualquer um de nós em qualquer lugar. Todos nós podemos de alguma forma ajudar nesta campanha.

Que consequências a omissão com a saúde mental e emocional das pessoas influencia na sociedade? O fato de estarmos sempre conectados faz com que nossa mente não pare um só minuto e precisamos de descanso e devemos colocar limites. Para aqueles que não conseguem sair deste mundo virtual, pode de certa forma causar sintomas muito parecidos com os apresentados por quem sofre com dependência de alguma substância como álcool ou drogas. A pessoa que fica conectada por muito tempo, sofre com inúmeros prejuízos, seja na saúde mental, saúde física, na relação familiar e/ou social. Outros afazeres e atividades antes valorizadas deixam de ser prioritárias ou até de serem realizadas. Gostar do nosso trabalho pode levar o profissional a ter mais energia e satisfação, mas tudo que é em excesso é negativo. A dedicação excessiva ao trabalho pode ser sinal de que algo não vai muito bem na vida pessoal, às vezes, a pessoa trabalha muito para fugir de um problema, para não se relacionar com os outros. O trabalho acaba sendo uma proteção.

Essa campanha dá visibilidade a um problema de saúde pública, o fato de sermos negligentes com nossa saúde mental. Afinal, por que isso acontece? O fato de sermos negligentes pode ser por diversos motivos, como a falta de conhecimento, preconceito, parte financeira, a falta de psicólogos na rede pública. Eu sempre brinco, em meu consultório com meus pacientes que pelo fato de não conseguirmos tocar, segurar ou ver nossas emoções, sentimento e pensamentos e somente sentir faz com que negligenciamos nossa bem saúde mental. Não queremos parar e falar de problemas e muitos se negam em ver a realidade. Há problemas que nem sempre sabemos a origem, mas sentimos as consequências. O número de pessoas com afastamento do devido ao estresse, depressão, dentre tantos outros problemas.

Existe muito preconceito e estigma contra as pessoas que realizam tratamentos mentais. Que tipo de barreiras culturais precisamos vencer para que as pessoas procurem acompanhamento profissional para lidar com as próprias emoções? Existe um preconceito em relação a cuidar da saúde mental, estar relacionado a ser louco, o que é não é verdade. Pelo contrário, aquele que busca a terapia, nos mostra muita coragem em olhar para si e enfrentar os problemas e acreditar na mudança de pensamentos e comportamentos para uma vida saudável.

No contexto do ‘Janeiro Branco’, qual a importância do aumento de acesso a tratamentos psicológicos gratuitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ou até mesmo a criação de uma política pública efetiva para tratamento psicológico na rede pública? Como objetivo desta campanha é que a população entenda a importância de cuidar da saúde mental, consequentemente a estrutura para o atendimento destas pessoas tanto na parte privada quanto na privada pública, deve estar preparada. Infelizmente, a demanda tem sido maior que a vagas no Sistema Único de Saúde. Não somente em nossa cidade, como em todo o Brasil, há pessoas que estão há meses na fila de espera por um atendimento. Precisamos de um plano de saúde onde seja valorizado, tanto o profissional da área, quando aquele precisa de atendimento porque a dor não pode esperar.  Esta dor pode ser fatal!

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