24/09/2017

Psicóloga peruana realiza trabalho voluntário em Engenheiro Coelho

Somaira Noguera deve passar um ano prestando serviços de voluntariado na Adra do município

Nathália Lima

Sair cedo de casa é um desafio enfrentado por muitos jovens que querem novas oportunidades. Alguns deles saem para trabalhar, outros para estudar, e “lá fora” encontram inúmeros desafios. As distâncias de casa variam entre poucos quilômetros e fronteiras entre países.

Pensando em doar seu tempo e conhecimento em prol de projetos sociais, a psicóloga estrangeira Somaira Noguera Flores veio para o Brasil trabalhar como voluntária da Adra de Engenheiro Coelho. Com apenas 22 anos de idade e recém formada em Psicologia, a jovem viajou 4283 quilômetros de Lima, no Peru, até o município coelhense, no interior de São Paulo, para participar do voluntariado.

A profissional da saúde mental ficará no Brasil por 12 meses, trabalhando com famílias em estado de vulnerabilidade social. Fora da casa dos pais há mais de 6 anos, Somaira se diz acostumada com a distância, mas encontrou no caminho vários desafios que tem vencido dia após dia. Cheia de curiosidade e muitos projetos para o município, a psicóloga contou ao Portal Coelhense sua história e quais são seus planos para os próximos meses no Brasil.

Como você conheceu o projeto de voluntariado e quando decidiu se inscrever para participar? Desde pequena, sempre tive o sonho de participar de algum projeto de voluntariado. Tive contato com esse assunto quando tinha ainda 12 anos e gostava de assistir a TV Nuevo Tiempo. Após essa época, estudei em uma faculdade adventista em Lima, no Peru. Em 2015, participei também de um evento feito no Unasp-EC, o “I Will Go”, e lá conheci uma amiga voluntária que me apresentou o projeto. De pronto, eu gostei e pensei que seria minha chance de participar.

Qual foi a reação da sua família quando você decidiu sair do Peru? Então, eu só contei sobre o projeto para meus pais quando estava com todos os detalhes alinhavados. Não queria criar expectativa nem neles, nem em mim mesma, e por isso esperei até estar tudo certo. Quando cheguei com a notícia, todos me apoiaram muito. No início, meu pai ficou bastante preocupado. Sou mulher e estaria embarcando para um país completamente diferente do meu, tanto na língua, quanto na cultura e costumes. Isso causou um pouco de receio nele, mas logo depois ele já se acostumou com a ideia e tive apoio completo de todos.

Como funcionam os projetos sociais no Peru? Existe algum projeto social como este do qual você faz parte? No Peru, existem projetos sociais sim, mas com focos diferentes dos que são realizados aqui no Brasil. Lá, os projetos tem mais foco em desenvolvimento de micro-finanças. As propostas são direcionadas a essa área, e tem como intuito trazer aos participantes dos projetos maior independência financeira. Aqui, nós trabalhamos muito mais a parte social, desenvolvendo reuniões com os pais, projetos educacionais com as crianças, entre outras atividades focadas para a parte psicológica.

Como tem sido sua experiência aqui no Brasil? Quais foram as principais dificuldades no contato com a nova cultura? Logo quando cheguei aqui, tinha um pouco de dificuldade com a língua. O espanhol e o português se parecem, mas ao mesmo tempo, têm muitas palavras diferentes. E isso, no início, foi complicado para mim. No entanto, com o tempo fui aprendendo e hoje não tenho mais tanta dificuldade. Outra diferença que notei foi na alimentação. As comidas são muito diferentes das que estava acostumada no Peru. Os temperos e os pratos diferem bastante. Um terceiro quesito que para mim foi bastante interessante nessa experiência é a maneira como fui tratada (e tenho sido) desde que cheguei. O povo brasileiro é bastante acolhedor e nos recebe muito bem.

Quais são os principais desafios do seu trabalho na Adra? A língua, no início, foi um grande desafio. Eu sempre gostei de redação de projetos, e logo quando cheguei, fiquei responsável por esse trabalho. Eu fazia o texto em espanhol, depois traduzia para o português, e junto com a coordenadora Adriana, via se tinha alguma incoerência no texto. Aprendi bastante com tudo isso. Outro aspecto que nos desafia bastante aqui na Adra é que somos uma equipe bem reduzida. Ao todo, na parte de educação, somos 4 pessoas.


“Faz parte do nosso trabalho compreender a realidade do outro, sem julgamentos, sem preconceitos, mas com muito amor e profissionalismo”


Quando surgiu a vontade de participar de um trabalho voluntário? Antes mesmo de sair do colegial, tive contato com revistas e artigos da igreja adventista que contavam histórias de pessoas voluntárias. Desde aquela época, eu tinha a vontade de sair para trabalhar em outro país. Essa vontade se acentuou quando fui estudar na Universidad Peruana Union. Nessa época, eu prometi a Deus que doaria um ano da minha vida como voluntária, e no meu último ano de faculdade (2016), essa oportunidade apareceu e eu vim parar no Brasil.

Por que você escolheu o Brasil para desempenhar esse trabalho? Uma das minhas melhores amigas é brasileira. Conheci ela na faculdade e, naquela época, aprendi um pouco de português com ela. Depois do “I Will Go”, senti que o Brasil seria um bom lugar para desempenhar este trabalho e de pronto decidi vir para cá. Entrei em contato com o pastor Ivo, responsável pelo projeto de voluntariado da IASD em São Paulo, e ele me aceitou como voluntária.

Como tem sido sua experiência com as famílias atendidas pelos projetos da Adra? Trabalhando com pessoas em vulnerabilidade social no Brasil, eu percebi que todos somos iguais e temos problemas muito parecidos. Durante o período em que atuei no Peru como psicóloga, via problemas e maneiras com as quais as pessoas lidavam com suas histórias de vida muito parecidas com as que vi aqui. Nessa realidade, vejo que as fronteiras entre os países não nos transformam em pessoas completamente diferentes. Nós temos desafios de vida parecidos e isso alimenta em mim uma empatia muito grande.

Empatia: qual é a importância desse sentimento no seu trabalho? Esse é um dos principais sentimentos que um psicólogo deve alimentar enquanto trabalha. Nós lidamos diariamente com realidades histórias e pessoas. Para mim, principalmente, que venho de outro país com uma cultura bastante diferente daqui, é ainda mais importante trabalhar a empatia. Aqui na Adra, pessoas de diferentes classes sociais são atendidas. Nós entramos em contato com vários problemas, desde financeiros, até de relacionamento. Faz parte do nosso trabalho saber conversar e compreender a realidade de todas as pessoas, sem julgamentos, sem preconceitos, mas com muito amor e profissionalismo. É preciso trabalhar dessa maneira para que, observando a realidade dos outros, possamos ajudá-los.

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